Lula encontra Sarkozy e ´afina orquestra´ para o G-20

Presidente convoca países com maiores PIBs que ´assumam a responsabilidade e enfrentem os ativos tóxicos´

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu o encontro com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, nesta quarta-feira (1º), em Paris, como uma reunião para “afinar a orquestra” antes do encontro do G-20, que acontecerá na quinta em Londres. Sarkozy afirmou que os dois “querem que o mundo mude”. “Se avançamos juntos, nossa voz é mais forte. Buscamos uma contribuição comum para uma nova governança mundial”, disse.
 
Lula foi mais enfático e afirmou “tanto eu quanto o presidente Sarkozy não queremos participar de uma reunião fracassada”. Ele convocou países com maiores PIBs que “assumam a responsabilidade e enfrentem os ativos tóxicos do sistema bancário”. “O sistema financeiro precisa voltar a ser vinculado ao sistema produtivo”, completou. Por volta das 13h30 de Paris, após almoço dos presidentes no Palácio do Eliseu, sede do governo francês, os líderes conversaram com a imprensa. 

Lula ressaltou ainda a expectativa sobre o encontro dos países mais ricos do mundo. “Negociamos parceria que propõe propostas concretas para o G-20. Todos sabem da expectativa que a reunião está gerando sobre os ombros dos líderes. Grandes decisões que serão tomadas amanhã serão políticas, e não apenas econômicas”.

Lula completou com duras críticas aos paraísos fiscais. “O G-20 precisa ser enfático contra os paraísos fiscais”. Ele chamou de “quase imoral” os que “especulam sem gerar nada para o sistema produtivo”.

“O G-20 vai ser uma reunião entre amigos, mas será difícil porque nem todo mundo está pensando da mesma forma. Estou convencido de que precisamos sair no mínimo com uma proposta que possa representar um alento. O medo é que causou essa crise. É preciso enfrentar o medo e tomar as decisões concretas”, concluiu.

Discordância
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi o responsável por elevar o tom dos debates às vésperas da reunião do G-20. Em entrevista a rádio Europe 1, Sarkozy disse que não está satisfeito com as atuais propostas do G-20, assim como a Alemanha. Ambos defendem maior regulação dos mercados financeiros e são contra o aumento dos gastos públicos, como querem os Estados Unidos. Ontem a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, já havia dito à BBC que o presidente francês poderia não assinar o comunicado final do encontro – informação depois contemporizada pelo porta-voz da presidência.

A tensão entre os dirigentes também foi elevada com a entrevista do primeiro-ministro do Japão, Taro Aso, ao Financial Times hoje. Ele defendeu a adoção de estímulos fiscais para restaurar as economias, com base na experiência do país nos últimos 15 anos, alegando que outras nações estão passando pelo problema pela primeira vez. “Eu acho que há países que entendem a importância de mobilização fiscal e há outros países que não – é por isso, eu acredito, que a Alemanha veio com suas visões.”

Protestos
Nas ruas, a população irá expressar seu descontentamento com a crise, o aumento do desemprego e o socorro aos bancos, em uma série de manifestações. O principal alvo será a City, centro financeiro da Europa. Aproveitando a data de 1 de abril, organizações sociais e ambientais prepararam o “Dia da Mentira Financeira”, com passeatas que sairão de quatro pontos da cidade para se encontrarem no Banco da Inglaterra. Cada marcha representará um “Cavaleiro do Apocalipse”: a guerra, o caos climático, os crimes financeiros e a apropriação de terras.

“Perdeu a sua casa? Perdeu o emprego? Perdeu suas economias ou pensão? Então esta festa é para você!”, diz o movimento G20 Meltdown, organizador da manifestação.

A segurança está sendo muito reforçada, já que a polícia de Londres montou uma operação de 7,2 milhões de libras (US$ 5 milhões), com 10,5 mil policiais. Os executivos financeiros foram aconselhados a deixar o terno e a gravata em casa. Diversos comerciantes decidiram fechar as portas nesta quarta.

O presidente Lula chega à estação de trem St. Pancras, por volta das 16h30, horário local (12h30 de Brasília). No início da noite, os líderes do G-20 serão recebidos pela rainha Elizabeth II, no Palácio de

Buckingham. Depois, jantam com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, na residência oficial em Downing Street.

Da Agência Estado