Vicentinho critica quebra de acordo na discussão do mínimo

Deputado diz que parte do sindicalismo acabou desmoralizado após aprovação do novo mínimo

Na semana em que o Congresso aprovou o novo valor do salário mínimo, de R$ 545, o relator da proposta na Câmara, deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, criticou a quebra de acordo por algumas centrais sindicais durante a votação do projeto. A proposta de valorização do mínimo, acordada pelo então presidente Lula e as principais correntes sindicais previa o valor aprovado nesta semana e um valor aproximado de R$ 620 no ano que vem. Vicentinho também criticou parte da imprensa, que, em sua avaliação, escondeu a política de recuperação do salário mínimo. O parlamentar acredita que o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), não terá dificuldades para se reeleger, em 2012, pois contará com o apoio ativo de Lula.  Leia, a seguir, a íntegra da entrevista.

ABCD MAIOR – O senhor foi o escolhido pelo governo para defender a proposta de aumento do salário mínimo (R$ 545), que foi aprovada. Como foi a experiência e como reagiu às criticas?

VICENTINHO – O fato de defender uma proposta negociada e construída com o movimento sindical me deu muita honra. Primeiro porque acreditamos no governo da Dilma (presidente Dilma Rousseff- PT), no projeto para o Brasil e também no acordo feito com as centrais sindicais.  Não existe coisa pior do que parte deste movimento sindical quebrar este acordo. Quem estava no Congresso vaiando não era o movimento sindical, e sim parte de um sindicalismo, que foi o mesmo que me vaiou quando eu propus o fim do imposto sindical. Esse grupo não representa os metalúrgicos do ABC, dos bancários e da CUT (Central Única dos Trabalhadores). É um sindicalismo conservador, cujos dirigentes não têm essa postura ligada ao verdadeiro movimento sindical.

ABCD MAIOR – Alguns meios de comunicação destacaram no dia seguinte à votação, as vaias que o senhor recebeu. Como o sr. recebeu?

VICENTINHO – Tem mídias e jornais que preferem destacar as vaias ao conteúdo. A informação do que de fato interessa à população é secundário. Eu já estou acostumado. Quem me vaiou no passado teve de me aplaudir depois de um tempo. Espero que em janeiro de 2012 me aplaudam quando o governo der o reajuste maior. Não tenho dúvida de que a política de valorização do salário mínimo é muito melhor do que aquela política pequena de reajuste anual, sem garantia para o futuro.  Ano que vem vai ultrapassar os R$ 615. Será um valor muito maior do que os R$ 600 defendidos, demagogicamente, pelo PSDB e os R$ 560 defendidos por parte do sindicalismo, que quebrou o acordo.

ABCD MAIOR – O senhor acredita que houve demagogia de parte do sindicalismo e da oposição ao governo Dilma?

VICENTINHO – O Paulinho da Força (deputado federal, Paulo Pereira da Silva-PDT) teve um papel muito feio. Na verdade, neste debate ele foi o grande desmoralizado, pois buscaram apoio do DEM e do PSDB. Além disso, o resultado da votação foi muito expressivo, o que mostrou que o Congresso votou com a razão. Ganhou a razão neste grande debate. Antes da votação tive a honra de receber estímulos de pessoas como o José Lopez Feijóo, vice-presidente da CUT e do Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, falando que a nossa história é baseada na honra e no cumprimento de acordos.

ABCD MAIOR – O que significou a aprovação dos R$ 545 para o governo Dilma, já que este foi o primeiro embate na nova gestão?

VICENTINHO – Primeiramente, significa que ela (Dilma) cumpriu o acordo e continuará a ampliar o trabalho feito pelo Lula (ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva-PT). Me lembro uma vez, na primeira participação de Lula como presidente na festa em comemoração do Dia do Trabalhador (1º de Maio), ele (Lula) disse no microfone que essa história de 100 dólares, como defendia o FHC (antecessor de Lula na presidência, Fernando Henrique Cardoso-PSDB) iria virar coisa do passado. Naquela época, o salário mínimo era 71 dólares. Lula profetizou e ano que vem o salário mínimo chegará a 325 dólares. O salário mínimo teve 57% de valorização e vai continuar crescendo.

ABCD MAIOR – Quais serão as conquistas após a aprovação do salário mínimo? O decreto para reajuste até 2015 foi consenso?

VICENTINHO – Existe uma divergência, colocada pelo PPS, que essa metodologia tira o poder da Câmara e Senado, mas os deputados e senadores já votaram. É claro, que a presidente não poderá mudar, de forma alguma, o acordo e o que foi votado pela Câmara e Senado. A lei foi aprovada e vale por quatro anos. Deve haver um debate jurídico sobre este assunto. Vamos aguardar. Mas todo ano o Executivo mandará um decreto onde apresentará a inflação e o valor do reajuste em cumprimento desta lei.

ABCD MAIOR – O governo e a Câmara já estão debatendo um possível reajuste na tabela do imposto de renda?

VICENTINHO – Tem o compromisso do governo e será honrado. O reajuste será feito assim que o projeto de lei for aprovado. Acredito que nas próximas semanas isso deverá acontecer. Porém, quero ressaltar que sou autor de dois projetos de lei, um deles é que aumenta para cinco faixas a tabela de imposto de renda. O outro, que ainda não apresentei, é para não descontar o imposto de renda sobre o abono salarial. Ainda não protocolei porque o Sérgio Nobre (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos) está conversando com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para chegar a um acordo. Caso não aconteça, vou apresentar a propositura.

ABCD MAIOR – Por falar em proposta, o senhor protocolou na Câmara o projeto de lei que aumenta em duas parcelas o seguro-desemprego para as mulheres que são arrimo de família. O senhor não teme que a proposta seja barrada por onerar os cofres públicos?

VICENTINHO – Pode acontecer, mas se o governo concordar, podemos fazer acordo. A proposta é importante. Muitas mulheres são arrimo de família. Costumo brincar que são “pãe”, pai e mãe ao mesmo tempo. O projeto surgiu nas audiências sobre o projeto de lei da proposta de jornada de 40 horas semanais e vamos dialogar com o Executivo para essa proposta se tornar realidade.

ABCD MAIOR – E como está o andamento na Câmara para votação do projeto de lei que propõem 40 horas semanais?

VICENTINHO – Este projeto está pronto para ir ao plenário. Vai depender da mobilização do movimento sindical e dos deputados. Quero gastar muito da minha energia para aprovação deste projeto. Como também quero gastar muito da minha energia na luta contra o trabalho escravo em apoio da PEC (Proposta de Emenda Constitucional).

ABCD MAIOR – Com três deputados representando a Região, agora é possível ter uma bancada do ABCD no Congresso?

VICENTINHO – É possível e totalmente positivo para a Região. Temos poucas organizações que enfatizam e apóiam a política regional. Destaco o ABCD MAIOR, que vem fazendo este trabalho. Espero que não só a bancada federal, mas também as bancadas estaduais possam articular o movimento.

ABCD MAIOR – O senhor já falou com a presidente Dilma depois da posse?

VICENTINHO – Depois da posse sim, mas falei recentemente com ela por telefone depois da votação do salário mínimo na Câmara.  A presidente disse que acompanhou todo o debate e que ficou emocionada com a consistência das minhas palavras. Recebi muitas ligações e felicitações que me deixaram muito feliz. Inclusive um e-mail, muito amável da “Mirinha” Belchior (ministra do Planejamento, Miriam Belchior) que falou da seriedade do meu trabalho.

ABCD MAIOR – O senhor defende a candidatura de Miriam à Prefeitura de Santo André em 2012?

VICENTINHO – É um excelente nome. Não sei se ela quer, mas se quiser, resolveria o problema de Santo André.

ABCD MAIOR – Na sua avaliação, que cenário o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), irá encontrar na candidatura à reeleição em 2012? E o quadro de oposição?

VICENTINHO – A direita está se articulando, mas estou convencido de que Marinho será reeleito. A cidade está melhorando. Marinho vem buscando recursos, tem participado de programas federais importantíssimos para o município e vem reorganizando a Prefeitura, os conselhos populares e os conselhos gestores. Por isso, acredito demais na reeleição e vou trabalhar muito para que Marinho vença no primeiro turno.

ABCD MAIOR – A participação de Lula na campanha municipal deve ser indispensável?

VICENTINHO – A participação de Lula é fundamental, além de Lula ser o nosso grande conselheiro e um grande líder do PT e de São Bernardo. Falei com Marinho recentemente, quando me confidenciou que o ex-presidente disse que quer se dedicar à campanha dele na cidade.

Do ABCD Maior