Montadoras alemãs cobram do governo mais incentivos para carros elétricos
Governo alemão quer ver 1 milhão de veículos elétricos nas ruas do país até 2020. Mas indústria automotiva calcula que só metade dessa quota será cumprida no prazo, caso não haja mais investimentos e subsídios fiscais.
O quarto relatório sobre o progresso da Plataforma Nacional de Eletromobilidade da Alemanha (NPE, na sigla original) marca o fim da primeira das três fases de um projeto que visa transformar a Alemanha no maior mercado de carros elétricos do mundo até 2020. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou quatro anos atrás, juntamente com representantes da indústria e sindicalistas, que dentro desse prazo 1 milhão de veículos elétricos deverão estar circulando no país.
A primeira etapa, denominada “preparação de mercado”, custou às montadoras 17 bilhões de euros nos últimos quatro anos, enquanto Berlim desembolsou 1,5 bilhão de euros em incentivos. Os consumidores hoje podem se decidir entre 17 modelos de fabricantes alemães, em 2015 serão entregues 12 novos modelos.
Meio do caminho
No entanto, os motoristas simplesmente não compram. Cerca de 100 mil carros elétricos deveriam estar circulando na Alemanha no final de 2014, marcando uma primeira etapa vitoriosa. Em vez disso, o quarto relatório aponta que apenas 24 mil unidades estão nas ruas.
Agora o presidente da NPE, Henning Kagermann, relativiza a meta dos 100 mil, argumentando tratar-se “apenas de um número”, um prognóstico “melhor do que ler a borra de café”. No entanto, ele admite só poder traçar um “balanço ambivalente”: apesar de a Alemanha ser o principal fornecedor mundial, e de só ter os EUA à sua frente em termos de oferta, atualmente o país está “apenas a meio caminho da meta da liderança de mercado”, diz Kagermann.
Comparando a outros países, tal avaliação é até uma benevolente. Nos EUA há 223.600 carros elétricos em circulação; no Japão são 88.500. Na Europa, a dianteira é da Holanda e da Noruega, ambos países que não produzem veículos elétricos. Kagermann reclama que o governo alemão não oferece suficientes incentivos financeiros. “Com o pouco que fazemos, o avanço verificado na Alemanha já é enorme”, defende.
Subvenções e incentivos fiscais
Na verdade, os preços altos são o que mais desencoraja os consumidores potenciais. Assim, os EUA, a China e a França oferecem bônus aos compradores, com o fim de promover as vendas. Os governos holandês e norueguês contribuem com incentivos fiscais elevados, que representam uma economia entre 5 mil e 8 mil euros para o comprador de um carro de médio porte.
Também na Alemanha há anos reivindica-se que as vendas dos veículos elétricos sejam impulsionadas por incentivos financeiros. Mas até agora o governo tem-se esquivado, colocando um orçamento público equilibrado como prioridade.
Isso pode mudar, dadas as atuais dificuldades. “Sempre dissemos que só vamos alcançar nossos objetivos se tivermos condições adequadas”, adverte Matthias Wissmann, presidente da Confederação da Indústria Automotiva (VDA) da Alemanha.
Entre as cobranças do quarto relatório da NPE, constam melhorias na ampliação da infraestrutura de abastecimento: para isso a plataforma recomenda uma combinação de investimento público e privado. A autonomia dos veículos também deve ser estendida. “A indústria está consciente de que o projeto é de longo prazo, e que não é de se esperar qualquer retorno do investimento a curto prazo”, ressalta Wissmann.
O relatório sobre o progresso da eletromobilidade na Alemanha também pede incentivos financeiros, como meio de reduzir os preços de aquisição. Em vez de bônus de compra, a NPE pleiteia abatimentos fiscais para quem usa o automóvel para fins profissionais. Henning Kagermann calcula que esse incentivo promoveria um acréscimo considerável das vendas, permitindo que entre 2019 e 2021 haja 800 mil veículos elétricos nas ruas, sendo mais da metade veículos de serviço.
A NPE afirma que se nada mudar, em 2020 não haverá mais do que 500 mil veículos elétricos circulando. Para evitar isso seriam necessários incentivos fiscais de cerca de 200 milhões de euros anuais. “A meta de 1 milhão de automóveis foi estipulada pela política, agora ela deve dar a sua contribuição”, cobra Kagermann.
Da Agência Deutsche Welle