CUT: burguesia brasileira não sabe nem o que é bom para ela
Freitas em ato com Dilma e Alexandre Padilha em São Paulo: para sindicalista, papel do Estado é diferencial
Presidente da central, Vagner Freitas, diz que Dilma é a única candidata que representa garantia de manutenção de programas sociais e que sabe o papel do Estado, e aposta que Marina não chega ao 2º turno
O presidente da CUT, Vagner Freitas, considera que os setores conservadores brasileiros acabam por prejudicar a si e ao país na ânsia de retirar do poder o PT. Em entrevista publicada na última sexta-feira (22) no portal da central, o sindicalista considera que as elites nacionais perdem nesta missão a oportunidade de ajudar a construir um projeto coletivo para o país, em um momento “ímpar” na história.
“Isso só demonstra algo que nós já sabíamos: a burguesia brasileira nunca teve um projeto coletivo para o Brasil. Ele tem um projeto voltado só para ela mesma. Estou consciente que ela não sabe nem o que é bom para ela. Porque nunca nós tivemos tanta oportunidade de crescimento, inclusive para a burguesia, como estamos tendo agora”, afirmou.
Ele compara o quadro externo em geral, com uma crise que se arrasta desde 2008, provocando desemprego e recessão, e a situação nacional, em que, apesar de não haver altos índices de crescimento econômico, assiste-se à manutenção da criação de empregos e do aumento de renda. Para Freitas, a diferença está no papel que se dá ao Estado, que no caso brasileiro vem sendo usado para criar mecanismos que assegurem os interesses da sociedade. “Procura-se estimular o mercado interno, o trabalho, incentivar a renda, e contra uma corrente de pensamento econômico que diz que esse processo já se esgotou. Imagina. O mercado brasileiro tem de se expandir muito ainda.”
O presidente da CUT esteve com Dilma no último dia 7, em ato no Ginásio da Portuguesa, na zona norte de São Paulo, ao lado de líderes sindicais de CSB, CTB, Força Sindical, Nova Central e UGT. Na ocasião, os líderes sindicais advertiram a presidenta de que é preciso melhorar os canais de diálogo com os representantes dos trabalhadores e garantir a efetivação de uma agenda trabalhista que passe por antigas reivindicações, como uma alternativa ao fator previdenciário e a redução da jornada para 40 horas semanais.
Em carta, disseram ainda que não é o momento adequado para apostar em incertezas, fazendo referências claras às campanhas de PSDB e PSB à presidência, ambas guiadas na área econômica por pessoas ligadas a um pensamento mais liberal, visto como ameaça de desemprego.
A candidata à reeleição pelo PT, em contrapartida, se comprometeu a não permitir nenhum retrocesso em termos de direitos e fez críticas à gestão de Fernando Henrique Cardoso, aliado do tucano Aécio Neves. “Eles quebraram três vezes o país”, afirmou, em referência a idas do Brasil ao Fundo Monetário Internacional (FMI). “Levaram o Brasil ao desemprego e ao arrocho salarial.”
Ao comentar o assunto, Freitas avalia que Aécio e Marina Silva, do PSB, estão hoje obrigados a falar em combate à pobreza durante a campanha, mas não teriam políticas públicas verdadeiras voltadas à redução da desigualdade se acabassem eleitos. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o sindicalista entende que um divisor claro entre as três campanhas é o plebiscito sobre a reforma política organizado por movimentos sociais, centrais sindicais e partidos.
A consulta popular será realizada entre 1º e 7 de setembro em todo o país, justamente em meio a um processo eleitoral em que o peso das grandes corporações na definição de disputas é notório. Enquanto o PT deu apoio à ideia e passou a participar da organização, o PSDB evita tocar no assunto.
“A oposição, a direita, não quer esse debate. O Plebiscito é muito maior do que discutir apenas novas regras eleitorais, se vai ter ou não financiamento privado de campanha. É uma outra concepção de sociedade”, diz Freitas. “Será que a Marina vai ficar contra isso? Se ela ficar, é sinal que ela sucumbiu totalmente. O plebiscito vai debater a estrutura de poder como um todo.”
À parte essa questão, o presidente da CUT se soma aos que acreditam que o senador mineiro tem mais chances de chegar ao segundo turno que a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula. A avaliação é de que Aécio continua a representar melhor os setores conservadores devido a suas origens políticas, ao passo que Marina, apesar de sua conversão a ideias de direita, segue sendo vista como alguém externo aos grupos dominantes do cenário nacional.
Da Rede Brasil Atual