Vannuchi: resistência do Congresso contrasta com humildade de Dilma

 

Alves (c) e alguns líderes da base aliada comandam a resistência às propostas de Dilma

Colunista da Rádio Brasil Atual afirma que presidenta vive maior teste, demonstrando capacidade de liderança política, enquanto setores do Congresso mantêm ideias clientelistas

O analista político Paulo Vannuchi considera que a resistência do Congresso a mudanças tem contrastado com a humildade de Dilma Rousseff em assimilar os desejos expressados pela população nas manifestações de junho. Em seu comentário diário na Rádio Brasil Atual, o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos elogiou a presidenta por manter a disposição de realizar uma consulta popular sobre a reforma política, mesmo com a resistência de deputados e senadores.

“A Dilma foi eleita em 2010, mas agora em 2013 é que ela vive o seu grande teste”, afirmou. “É um teste real sobre sua qualidade de estadista e de liderança política. Insistimos muito que o projeto político coletivo está acima dos indivíduos, mas o indivíduo também é muito importante na realização desse projeto”, acrescentou, afirmando que Dilma demonstra humildade ao apresentar cinco pactos para mudar o país.

Enquanto isso, o Congresso vive mais uma semana de recesso forçado, a segunda, contrariando o regimento da Casa e colocando fim a uma agenda intensa de votações nas semanas pós-manifestação. Nas últimas sessões antes das férias, alguns grupos de deputados e senadores haviam retomado a intenção de impor um ritmo mais baixo e de garantir a apreciação de matérias de interesses corporativos ou contrários ao Palácio do Planalto. Além disso, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), criou um grupo de trabalho para avaliar propostas sobre a reforma política, a princípio descartando o plebiscito sugerido pela presidenta.

“Claro que o Poder Legislativo reagiu de uma maneira diferente. Não teve a mesma humildade. Passou uma semana votando um monte de coisas para dar a impressão de que tinha acatado o grito das ruas, mas não tinha. Em seguida, travou para dizer ´não mexam nos nossos privilégios, nos nossos mandatos, o povo não tem direito de fazer isso´. Na verdade, tem. É o povo que elege, o povo tem o direito de dar um novo rumo”, afirmou Vannuchi.

Ontem, em entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, Dilma manifestou que a ideia da consulta popular é justamente garantir que a sociedade promova reformas que deputados e senadores terão resistência a fazer. Para ela, ainda existe a possibilidade de promover um plebiscito sobre mudanças no sistema político. “Se você não escutar a voz das ruas, terá novos problemas”, disse.

Na entrevista a Mônica Bergamo, Dilma atenuou a importância dada a eventuais críticas feitas por Luiz Inácio Lula da Silva, que considera normais, e disse que ela e o ex-presidente são “indissociáveis”. “Esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola. Agora, falar volta Lula e tal… Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu.”

O jornal questionou Dilma sobre a possibilidade de uma regulamentação nas telecomunicações. A presidenta afirmou que o anteprojeto deixado por Franklin Martins, ministro da Secretaria de Comunicação Social durante o segundo mandato de Lula, precisará ser ajustado para contemplar a mudança rapidamente provocada pela internet. “A regulação em algum momento terá de ser feita. Mas ela não é igual ao que se pensou há três anos. É algo complexo, até o que deve ser regulado terá de ser discutido.”

 

Da Rede Brasil Atual