Cunhado de Alckmin é acusado de tráfico de influência

A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo informou nesta segunda-feira (10) que vai pedir ao Ministério Público investigação sobre suposto tráfico de influência do empresário e lobista Paulo César Ribeiro, o Paulão, cunhado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), em repartições do estado. Segundo o PT, Ribeiro atuou como intermediário da Sistal Alimentação de Coletividade Ltda. em contratos firmados com estatais paulistas no valor total de R$ 23,5 milhões.

Ribeiro já é alvo de inquérito do Ministério Público por suspeita de tráfico de influência em administrações municipais em favor de outra empresa do setor, a Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda – fornecedora de merenda escolar para diversas prefeituras, entre as quais a de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, terra natal de Alckmin e de sua mulher, Lu, irmã do empresário.

Amparada em ordem judicial, a Promotoria fez buscas na residência e no escritório de Ribeiro no dia 27 de dezembro de 2010. O PT avalia que a atuação do cunhado do governador não está restrita às prefeituras. A assessoria técnica do partido rastreou contratos da Sistal com a Imprensa Oficial do Estado (Imesp) e com a Prodesp.

Os dados relativos a esses contratos constam de publicações no Diário Oficial e da relação de auditorias do Tribunal de Contas do Estado. O PT não aponta irregularidades nas contratações, mas pretende que o Ministério Público as investigue – dada a suposta ação de Ribeiro.

Investigações
O primeiro contrato com o Imesp é de julho de 2000. Alckmin era vice-governador. Ele assumiu o governo oito meses depois, em março de 2001, com a morte de Mário Covas. Esse contrato foi prorrogado até julho de 2004. Há registro de vários aditamentos no ano seguinte à vitória de Alckmin nas eleições ao governo do estado, em 2002.

O segundo contrato com o Imesp vai de agosto de 2004 até o fim de 2009. O contrato com a Prodesp vai de julho de 2001 até o fim de 2003, ano em que houve aditamentos. O valor nominal dos contratos é de R$ 13, 48 milhões – corrigido pelo IGP-DI até dezembro de 2010, alcança R$ 23, 53 milhões.

O deputado Antônio Mentor, líder do PT na Assembleia, disse que a bancada vai encaminhar ao Ministério Público documentos relativos aos contratos. O PT suspeita que Ribeiro transite em repartições estaduais e municipais há pelo menos 10 anos – o lobista é rastreado pela promotoria desde 2006.

“Estamos investigando outras implicações (de Ribeiro) e encontramos a Sistal em contratos com o Imesp e a Prodesp desde 2000 em valores que chegam a quase R$ 24 milhões. Ele aparece como intermediário nessas negociações, agindo como lobista mesmo”, afirmou Mentor. “Até aqui localizamos esses dois contratos, mas é possível que haja outros.”

Denúncia Nogueira
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ex-vice-prefeito de Pindamonhangaba, João Bosco Nogueira (PMDB), afirmou que o cunhado de Alckmin liderava uma “quadrilha” que financiou campanhas e subornou servidores para intermediar contratos com as prefeituras.

“Não havia um contrato que se celebrasse sem que passasse pela mão dele”, afirmou. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha – Como funcionava o suposto esquema de direcionamento das licitações?
João Bosco Nogueira: O Paulo Ribeiro já fazia esse trabalho em outras cidades. Ele financiou a campanha do João Ribeiro e [depois de eleito] o prefeito entregou a Secretaria de Finanças para indicados por Ribeiro.

Folha – Mas como ele direcionava os contratos?
Nogueira:
O operacional dele lá era o Silvio Serrano [secretário de Finanças que, após a denúncia, foi exonerado, em 2010]. Houve uma centralização de poderes. Mas ele era o operacional, o chefe da quadrilha era o Paulo Ribeiro. O Serrano contatava as empresas, homologava [as licitações] e deferia. Não havia contrato que se celebrasse sem que passasse pela mão deles.

Folha – O sr. falou com o prefeito João Ribeiro sobre o assunto?
Nogueira:
Eu avisei inúmeras vezes. Disse: “João, para com isso. Esse pessoal te põe na cadeia”. Aí ele justificava que o Paulo Ribeiro tinha financiado a campanha dele para prefeito pela primeira vez, de deputado e essa [de 2004].

Folha – Mas isso está na prestação de contas da campanha?
Nogueira:
Ah, não. Isso eles receberam por fora.

Folha – O sr. chegou a ver o Paulo Ribeiro na prefeitura?
Nogueira:
Ele participava de todas as reuniões de transição, que eram na casa do prefeito. Quando ele apareceu na primeira reunião oficial, já na prefeitura, eu contestei. Aí o prefeito proibiu.

Folha – Por que o sr. só falou com o Ministério Público em 2010?
Nogueira:
Comecei a denúncia na prefeitura, depois fui para fora. Para o promotor contei o que sabia, depois confirmei em depoimento. Como era muito amplo, ele decidiu direcionar [a investigação] no esquema da Verdurama.

Folha – Ribeiro é próximo a Alckmin?
Nogueira:
De jeito nenhum. Eu já vi o Alckmin dando um fora nele, na campanha passada [2008], disse que o Ribeiro estava expondo ele. Eu tenho certeza que o Alckmin não tem relação com isso.

Do Vermelho, com Folha de S.Paulo e Estadão