Impacto do feriado nas urnas ameaça mais Serra, diz analista

No primeiro turno deste ano, 18,11% dos eleitores brasileiros não votaram, pelas contas do Tribunal Superior Eleitoral. Ou seja, 24.595.963 cidadãos, mais do que os 19.636.359 votos para a presidenciável do PV, Marina Silva. Esse número deve aumentar em 31 de outubro por causa do feriadão emendado pelo Dia de Finados da terça-feira seguinte. Para o cientista político Humberto Dantas, conselheiro da ong Movimento Voto Consciente, os efeitos da abstenção prometem danos à candidatura presidencial do PSDB.

– A tendência é impactar um pouco mais no Serra – afirma. – Existe uma relação muito grande entre renda e viagens em feriados. Quem tem mais dinheiro tende a viajar mais. Como as pesquisas têm mostrado uma correlação entre voto no candidato José Serra e (mais alta) faixa de renda, neste caso pode haver uma preocupação maior da candidatura do PSDB em relação ao feriado.

Ou seja, eleitores de Serra têm mais chances de não estar no seu colégio eleitoral e deixar de comparecer às urnas. De fato, foram os tucanos que já se mobilizaram claramente contra a ausência de eleitores.

Humberto Dantas também chama a atenção para a importância de se saber se o funcionalismo público tem predileção por um candidato, pois o feriado dos servidores, na quinta-feira (28), cria um feriadão ainda maior para esta classe e amplia seu potencial de abstenção.

Leia a entrevista.

Terra Magazine – É possível avaliar se existe um segmento do eleitorado mais propenso à abstenção no segundo turno das eleições presidenciais devido ao feriadão composto pelo Dia de Finados na terça-feira (2 de novembro)? Há chances de, por causa disso, ocorrer um desequilíbrio na votação?

Humberto Dantas – Quem tem se preocupado com isso de maneira mais clara é o PSDB. Tanto é verdade que hoje (segunda-feira, 18) saiu uma foto no Estadão do Indio da Costa (candidato a vice) pedindo para as pessoas não trocarem quatro dias por quatro anos, conversando com pessoas hipoteticamente com nível socioeconômico mais alto, num parque do Rio de Janeiro. É efetivamente o segmento da sociedade que mais viaja. Existe uma relação muito grande entre renda e viagens em feriados. Quem tem mais dinheiro tende a viajar mais. Como as pesquisas têm mostrado uma correlação entre voto no candidato José Serra e (mais alta) faixa de renda, neste caso pode haver uma preocupação maior da candidatura do PSDB em relação ao feriado. Pode haver.

Uma variável interessante de ser medida é o fato ou não de ser funcionário público, e, caso seja, se existiria uma tendência maior de voto em algum candidato porque, se o feriado dos (eleitores) comuns tem quatro dias, o do servidor público tem seis por causa do seu dia, em 28 de outubro. Você pode criar aí um superferiado. Isso pode, de uma certa maneira, prejudicar a campanha do candidato que contar com uma participação mais efetiva dos servidores públicos. O PT já teve história de angariar voto com funcionário público, mas são sei como anda isso hoje, também não vi nenhuma pesquisa que faça esta distinção entre servidores públicos e outros tipos de eleitores.
Olhando o que temos à disposição em termos de pesquisa, a preocupação maior seria do PSDB.

E o superferiado do funcionalismo também não incentivaria o eleitorado de Dilma Rousseff no Norte e no Nordeste a viajar, mesmo sem o poder aquisitivo tão alto?
Não sei, cara, porque a Dilma se sobressai muito no Nordeste, mas predominantemente numa classe muito desfavorecida. A probabilidade desta classe viajar é menor. Não estou dizendo que não viaje, longe de mim fazer um discurso preconceituoso desta natureza. Mas estamos falando de chances. Talvez o impacto do feriado seja maior num eleitorado mais privilegiado economicamente, que as pesquisas têm mostrado que apoiam mais o Serra. Óbvio que existe gente muito bem economicamente que vota na Dilma, o Serra não tem 100% dos votos dos ricos, tem uns 50%, 60%, enfim.

Existe o discurso do governo de que nunca viajaram tanto, inclusive de avião, as pessoas com menor poder aquisitivo. Neste caso, isso poderia ser prejudicial à própria candidata governista…
É, o governo tem feito este tipo de apontamento. Mas a gente tem que ver em que momento efetivamente estas pessoas viajam. As pessoas gostam muito de viajar no fim do ano por conta das festas etc. Tem que ver o quanto o feriado ainda impacta boa parte da sociedade brasileira.

A gente tem que lembrar também que não é todo mundo que para na segunda-feira (1º/12). Se fossem sexta, sábado, domingo e segunda, seria mais caótico do que de sábado a terça. Esses dias emendados não costumam ser contabilizados, muitas vezes. O comércio funciona, os shoppings abrem, principalmente os eleitorados das grandes cidades estão envolvidos em atividades profissionais, muitos acabam tendo que votar.

Acho que a tendência é impactar um pouco mais no Serra. Mas uma boa campanha de “quatro anos por quatro dias”, num cenário de extremo equilíbrio…

Se a gente chegar, às vésperas das eleições, com um candidato abrindo 10, 15 pontos em relação ao outro, a gente pode se preocupar muito com isso. Mas, pelo que estamos observando na campanha, não parece que isto vá acontecer. Existe uma tendência ao equilíbrio: quatro, cinco, seis pontos (de diferença). Lembrando que, no segundo turno, cada ponto que um conquista significa que o outro caiu, então você está tirando dois pontos (de desvantagem).

A mudança do feriado dos servidores públicos de São Paulo poderia criar algum efeito prejudicial ao governo tucano, alguma retaliação dos funcionários nas urnas?
Acho que, em alguns casos, sim. Mas a maioria, não. Porque, em boa parte, seria um feriado na quinta (28/10) que poderia não necessariamente emendar na sexta. Ele está sendo jogado, se não me engano, para a segunda anterior, o que, para o sujeito, é melhor, principalmente para aqueles que trabalham sábado por exemplo e vão ter um feriado muito bacana.

Para alguns, é benéfico; para outros, vão ter críticas. Acho que o fato de alterar um feriado não mudaria o voto de uma pessoa, a não ser que realmente fosse um eleitor muito pouco certo daquilo que deseja efetivamente. Desse aí, você pode esperar qualquer coisa.

 

Do Terra Magazine