Conflito campal entre polícias é marca da política de segurança de Serra, diz analista
Especialista aponta que batalha em frente ao Palácio dos Bandeirantes interrompeu esforço antigo de integração de polícias
Mas o encontro com a Polícia Militar resultou em um enfrentamento transmitido para todo o Brasil e com repercussão internacional. Na ocasião, a batalha em campo aberto foi analisada pelo Times Online, da Grã Bretanha, em função do alerta das Nações Unidas de que deveria ser revertida a situação de baixos salários da polícia brasileira.
Serra preferiu não receber os policiais civis, dando mostras de inflexibilidade. A Polícia Militar, como fez ao longo da gestão do agora candidato à frente do estado, cumpriu a ordem de reprimir movimentos reivindicatórios. A diferença é que, desta vez, do outro lado estavam homens igualmente armados e que carregam, entre si, o peso de disputas por espaço. O resultado imediato foi de 24 feridos e manchas na imagem da política de segurança estadual.
A longo prazo, os efeitos são piores. Renato Sérgio de Lima, secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lembra que foi prejudicado todo e qualquer esforço de integração das polícias. A divisão histórica é vista como um dos fatores para explicar os altos índices de criminalidade no estado, já que a comunicação entre policiamento ostensivo e investigativo fica prejudicada.
Lima lembra que, durante a gestão de Mário Covas, a primeira que o PSDB teve em São Paulo, foi feito um esforço grande na melhoria deste intercâmbio. “Se é que os governos posteriores não abandonaram isso, na prática deram menos ênfase, tiveram uma administração mais tradicional da polícia”, analisa. Ele refere-se aos seis anos de gestão de Geraldo Alckmin e três de José Serra.
O que vinha com problemas agravou-se. O especialista entende que os fatos de 2008 significam um enorme refluxo nos esforços empreendidos desde a década anterior. “É extremamente emblemático que, quando as reformas não ocorrem de uma maneira definitiva, ao menor sinal, podem retroceder muito. É uma quebra de confiança, uma fragilização da política de integração que vinha sendo conduzida há muitos anos.”
Luiz Flávio Sapori, ex-secretário de Segurança Pública de Minas Gerais e secretário-executivo do Instituto Minas pela Paz, entende que o setor de investigação vinha avançando na polícia paulista, com melhoria na resolutividade de casos. Mas, de 2008 para cá, a situação mudou. “Isso por conta do acirramento dos conflitos corporativos entre as duas polícias, que teve o ápice no enfrentamento em frente ao palácio de governo. Isso afeta a motivação policial na ponta, bem como aumenta a distância entre os trabalhos da polícia ostensiva e da polícia investigativa. À medida que esse trabalho é distante, antagônico, a eficiência na repressão ao crime diminui.”
Da Rede Brasil Atual (João Peres)