Polícia contra polícia: esta é política de (in)segurança do governador José Serra

Governador tucano ignora a greve dos policiais civis que já se arrasta há mais de um mês e tenta empurrar a culpa do confronto de ontem para o movimento sindical; as polícias Civil e Militar transformaram o Morumbi numa praça de guerra, com ação da cavalaria, tropa de chope e explosão de bombas. Consequência de desgoverno, o saldo dessa violência são mais de 30 feridos e a insegurança e medo da população, que não pode confiar na Polícia nem em quem deveria mandar nos policiais


O confronto entre policiais civis e militares, na frente do Palácio dos Bandeirantes, na tarde desta quinta-feira (16) em São Paulo, deixou pelo menos 32 feridos. Além das imagens de violência e selvageria entre aqueles que deveriam zelar pela segurança da população e do Estado, o que mais chocou foi o descaso do governo estadual, que há um mês ignora a greve legítima dos policiais civis por melhores salários. Para piorar, o governador José Serra (PSDB) acusa “políticos e sindicalistas” de incitarem o confronto comfins eleitorais.

O tumulto começou quando policiais civis programaram uma passeata para pressionar o governo José Serra a retomar as negociações. Ao saber do ato, Serra afirmou que não negociaria com os grevistas e ainda ordenou a formação de barreiras para impedir o protesto nas imediações do Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, o que acabou provocando a confusão.

De acordo com o secretário-geral da CUT São Paulo e diretor do nosso Sindicato, Adi dos Santos Lima, “o comportamento irresponsável do governador José Serra e do secretário estadual de Segurança Pública por pouco não provocou mortes”.

O movimento une investigadores, delegados, escrivães e peritos da Polícia Civil, que estão em luta por melhores condições de trabalho e salário desde meados do mês passado. “Por um lado, provocaram a categoria dos policiais civis em greve ao abandonar a segurança pública, não dar as mínimas condições de trabalho, manter equipamentos defasados, salários arrochados e, pior, não atender solicitações, se negar a negociar e ainda criticar o comportamento de quem tem preocupação com a segurança dos cidadãos”, denunciou Adi.

“Serra não quer diálogo, somente imposição. Eu vi uma guerra civil, o conflito quase gerou mortes na porta do Palácio”, ressaltou o dirigente da CUT.


O presidente da Associação dos Funcionários da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Elquias de Oliveria (AFPCESP), explica a confusão. “A PM veio agredindo os policias civis. E os policiais civis gritavam do carro de som que estavam com o mesmo salário arrochado e que eles guardassem os escudos e cacetes e os acompanhassem no protesto ao governo, porque mais de 100 mil policiais civis e militares estavam passando fome e eles estavam jogando bomba contra os policiais”, disse Oliveira.

“O tumulto foi criado pelo governo e pela Polícia Militar, porque os PMs estão a serviço do governo”, disse o presidente da Associação dos Funcionários da Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Deplorável – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repudiou o confronto entre policiais militares e civis na capital paulista. “É uma coisa deplorável que aconteça esse conflito, porque (as polícias) são dois órgãos importantes do Estado”, afirmou o presidente.

Questionado sobre a possibilidade de uma intervenção federal para evitar novos confrontos em São Paulo, Lula respondeu: “Depende. O governo federal só pode entrar se o governo estadual pedir. Eu penso que o governador (José Serra) tem todas as condições de resolver.”

Serra não reconhece erro – O governador José Serra fugiu da responsabilidade pelo confronto e negou ter perdido o controle sobre a segurança pública no Estado. O tucano decidiu culpar o PT, a CUT e os sindicatos de estarem por trás do conflito. “Isso (o confronto) não foi um duelo entre forças policiais, mas um movimento incitado politicamente. A categoria tem 33 mil pessoas. Aqui tinha cerca de mil e nem todos que estavam na manifestação são policiais”, disse Serra. “Não tenho dúvida nenhuma de que tem participação ativa da CUT, que é ligada ao PT, e da Força Sindical, ligada ao PDT. Na verdade, se procura politizar essa manifestação.”


A declaração foi rebatida pelo presidente do PT em São Paulo, José Américo Dias, para quem o governador tenta de forma “oportunista” jogar nas “costas do PT um problema que é dele.”

“Ele ganhou o governo com perspectiva de melhorar os salários, com essa promessa, e, ao contrário, o que ele fez foi trair as promessas que fez quando era candidato e agora diante da greve que já dura mais de 30 dias, diante de um movimento que é legítimo, tenta tirar o corpo fora e politizar a questão”, afirmou.

Dias disse que os deputados que estavam presentes na manifestação são do PDT, PV e PT e participaram do ato porque apóiam o movimento. “Ele (Serra) precisa aprender a lidar com a democracia. É para criminalizar os movimentos sociais, mais uma vez.”
E emendou: “a convivência com o PFL (o DEM) está fazendo muito mal a ele. Está transformando ele em uma pessoa autoritária.”

O presidente da CUT São Paulo, Edilson de Paulo, também repudia as declarações de Serra. “Apesar de não serem filiadas à CUT-SP, manifestamos integral apoio não somente às associações e sindicatos de policiais civis, em campanha por melhores condições de trabalho, mas ao funcionalismo como um todo, em luta contra a precarização dos serviços públicos que se aprofunda na gestão de Serra.”

Edilson explicou que a entidade defende o respeito ao direito constitucional de greve e ao diálogo, que não acontece na administração tucana e atinge ainda trabalhadores de outros setores como a saúde, a educação e até mesmo a Nossa Caixa, tratados como criminosos pelo governo do PSDB. “Chegou a hora do governador José Serra e de seus aliados deixarem de fugir de suas responsabilidades com discursos que atribuem um caráter eleitoreiro a todas as manifestações no Estado”, completou.


A Bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo também criticou a postura das autoridades competentes envolvidas no caso.

Os petistas exigem que o governador José Serra trate-os com o mesmo respeito com que tem sido tratado.

“Esclarecemos que o único responsável por este lamentável episódio é o governador José Serra que permitiu que uma reivindicação legítima da polícia civil paulista, uma das mais mal remuneradas do país, desembocasse numa verdadeira guerra campal devido a insensibilidade e a irresponsabilidade do Governo do Estado, que, numa prática que já se tornou recorrente, resolveu reprimir o movimento ao invés de negociar com a categoria”, disse o deputado Roberto Felício, líder da bancada do PT.

“A Bancada do PT sempre manifestou-se em defesa do diálogo e da negociação. Imbuída por este intuito, se colocou presente inclusive nesta tarde no Palácio dos Bandeirantes para interceder por um diálogo construtivo entre os representantes dos grevistas e o governo estadual”, afirmou.

Felícia acusou o governador de querer partidarizar o movimento da polícia civil e tentar acusar o Partido dos Trabalhadores. “O PT é apenas solidário. A greve não é do PT , é da polícia civil.”

Tucanagem – No Rio Grande do Sul, confronto parecido também manchou de sangue as ruas de Porto Alegre. Coincidência ou não, o Estado também é governo pelo PSDB. A tucana Ieda Crusius concorda com seu colega Serra quando os assuntos são autoritarismo, falta de diálogo, desrespeito, truculência e irresponsabilidade criminosa.

A tradicional Marcha dos Sem, manifestação organizada pela CUT e pela CMS – Coordenação dos Movimentos Sociais, foi o alvo gaúcho da truculência tucana. Segundo Quintino Severo, secretário geral da CUT Nacional, que participou da mobilização na capital gaúcha, “a governadora mais uma vez demonstrou seu desprepara para conviver com a democracia.”

Para Quintino, “Yeda transformou o Estado do Rio Grande do Sul em um palco de escândalos de corrupção e de truculência contra os movimentos sociais.”


A 13ª Marcha reuniu cerca de 10 mil pessoas e trouxe como tema “a defesa da dignidade humana” – publicamente desrespeitada pelo governo Yeda, que ordenou a Polícia Militar usar e abusar da violência contra os trabalhadores.

A repressão tucana teve início por volta das 16h na esquina da Rua Espírito Santo com a Duque de Caxias em frente à Catedral – Praça da Matriz – quando a PM avançou sobre os participantes da passeata que tentavam ultrapassar a barreira formada pelos soldados que trancavam o acesso do carro de som em direção ao Palácio Piratini, sede do governo do Estado. 


Os militantes estavam a sessenta metros do Palácio e foram impedidos com o uso da violência policial que lançaram bombas de efeito moral e balas de borracha, ferindo de forma covarde cerca de 17 manifestantes feridos,  que foram levados ao Hospital do Pronto Socorro (HPS).
Após muita pressão dos movimentos sociais e uma difícil negociação com a Polícia, os militantes conseguiram avançar e finalmente, por volta das 16h30, parar em frente ao Palácio Piratini para o encerramento do ato.

Da Redação com informações do PT, PTSP, CUT e CUT São Paulo. Imagens de reprodução das TVs Globo e Bandeirantes e do Jornal Zero Hora