Aumenta número de mulheres arrimo de família no ABCD

A quantidade de mulheres que são arrimos de família saltou de 23% para 39,5% na Região nos últimos dez anos. Dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam 315 mil mulheres nas sete cidades que sustentam sozinhas a casa, contra 482 mil homens – o que corresponde a 60,5% do total de chefes de família. Em 2000, os homens equivaliam a 76,9% (509 mil).

De acordo com o levantamento feito pelo ABCD MAIOR, em todas as cidades do ABCD houve significativo aumento no número de mulheres que fazem a jornada dupla de trabalho. São mulheres que trabalham em empresas, comércio, indústria, além de desempenhar funções domésticas, e que, sozinhas, financiam os gastos da família.

Proporcionalmente, São Caetano e Diadema, que possuem uma realidade socio-econômica muito distinta, lideram o ranking de mulheres que são arrimo de família, com 43,7% e 43,2%, respectivamente.

Em São Bernardo, 92.644 mil mulheres (38,3%) financiam os custos da casa e dos filhos sozinhas, como é o caso da metalúrgica Maria de Fátima Menegueti, 56 anos. Há 20 anos divorciada e mãe de dois filhos, Fátima nunca pôde contar com a ajuda substancial do ex-marido para o sustento da casa, e desempenhou ao longo de todos esses anos o comando solitário do lar.

“Não foi fácil porque era jornada estressante na fábrica e quando chegava em casa não tinha descanso, a roupa tinha de ser levada, a comida preparada, e por aí vai. Mas deu certo e consegui criar meus filhos e tocar a vida”, afirmou a metalúrgica.

Além de dividir o tempo entre o trabalho na metalúrgica, em casa e a criação dos filhos, Fátima teve de driblar o preconceito dentro da fábrica onde trabalhou. “É uma superação a cada dia, mas acredito que isso (o preconceito contra a mulher) está diminuindo e que com tempo os homens saberão dividir melhor as tarefas da casa com suas esposas, ou mesmo ex-esposas, como é o meu caso”, disse.

Tendência
Para a coordenadora do curso EAD (Educação a Distância) de Ciências Sociais da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), Luci Praun, os dados seguem uma tendência já iniciada há pelo menos três décadas no Brasil, e tem a ver com o aumento no número de divórcios a partir de 1980, crescimento econômico e reestruturação produtiva a partir de 1990, e precarização do trabalho.

“O mercado de trabalho absorve muito bem a mulher porque é mais barato. Nos anos de 1980 e 1990 houve uma reestruturação produtiva que enxugou postos de trabalho e precarizou outros. Na mesma época, começou um período de desestruturação familiar, e essas mulheres foram lançadas para as vagas mais precarizadas. O que observamos é que a desestruturação familiar afeta mais pessoas das camadas mais pobres da sociedade”, afirma a socióloga.

Do ABCD Maior