“Rodoanel traz danos irreversíveis ao meio ambiente”

Segundo o ambientalista Carlos Bocuhy, as compensações ambientais oferecidas são insuficentes


“Essa corrida eleitoral acaba prejudicando a proteção ambiental. A obra deveria demandar mais tempo para não ser tão agressiva ao meio ambiente”

O ambientalista Carlos Bocuhy, do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, diz que o Rodoanel promove danos irreversíveis ao meio ambiente, à fauna e à represa Billings, e que as compensações ambientais são fictícias.

Quais os danos que o Rodoanel trouxe à represa Billings?
Não houve possibilidade de identificar todos os danos ambientais à Billings. Mas, várias áreas da represa foram aterradas, houve uma redução de seu reservatório com aterramento e assoreamento. A construção de uma obra como o rodoanel leva a uma série de danos ambientais que são irreversíveis. Outro dano é o da obra como indutora do crescimento nessa regiões, permitindo um adensamento populacional muito maior em locais como nas ligação com a Imigrantes e a Anchieta. São locais de grande atrativo para o estabelecimento de comércio e indústria.

Para a obra foram desmatados 297 hectares, equivalente a 440 campos se futebol. As compensações são suficientes?
Esse tipo de licenciamento permite que o empreendedor assuma uma série de compromisso de compensações que não se retratam em aspectos práticos. Muita áreas são desmatadas com biodiversidade formada, com ecossistema formado, que são substituídas por pequenas mudas de plantio em outra áreas. Do ponto de vista ambiental é uma compensação fictícia.

A compensação prevê o plantio de 300 mil mudas de árvores no Parque do Pedroso. É suficiente?
De maneira alguma. Se considerarmos que o rodoanel destruiu ecossistema complexos com toda uma vida de micro-organismos e de algumas espécies de animais em extinção, haverá a troca desse patrimônio ambiental por mudas que vão crescer e formar ecossistemas daqui há 30, 40 anos. É uma compensação ilusória, que só tem resultado no papel. Não se planta aquilo que se perdeu num ecossistema já frágil. E passa uma falsa segurança para a sociedade de que está havendo uma compensação ambiental.

Qual a alternativa?
O melhor é fazer o empreendimento fora das áreas de proteção ambiental, das florestas, fora do curso das águas, procurando áreas já degradadas. Mas isso só seria possível se escolhessem as áreas mais urbanizadas, mas daí o rodoanel seria mais caro e com mais conflitos com a comunidade. A opção é pelo lado mais fraco da corrente, que é destruir a biodiversidade.

A Dersa alega que faz a gestão ambiental da obra e que cuida dos animais encontrados. Quantos animais estão ameaçados?
No trecho leste, projetado para continuar o trecho sul por Santo André e Mauá, já foram identificadas mais de vinte espécies de árvores em extinção, mais mamíferos e outras espécies mais próximas da Billings. Mas, falta uma gestão participativa e falta transparência, porque é o governo estadual que faz tudo, é o tipo do projeto onde não há um contraditório. Quem faz a gestão é a Dersa, quem executa é uma empresa contratada pela Dersa, quem licenciou foi o governo do Estado, que também vai fazer a fiscalização. Temos notícias de que em vários trechos o monitoramento da fauna foi abandonado. Além disso, há uma agilização do processo para que o Serra inaugure o Rodoanel antes de se desincompatibilizar. Essa corrida eleitoral acaba prejudicando a proteção ambiental. A obra deveria demandar mais tempo para não ser tão agressiva ao meio ambiente.

O que deveria ser feito nas obras do trecho leste que não foi feito no trecho sul?
A principal recomendação é que a obra não traga expectativa de compensações ambientais ilusórias. É preciso dizer para a sociedade que vai desmatar, que vai haver mortes de animais, desaparecimento de espécies. O ideal é que não se faça isso, é que se procure projetos talvez mais caros em termos de desapropriação, mas que seja um trajeto não tão agressivo ao meio ambiente. Esses traçados não são viabilizados pelo empreendedor por que a alternativa de escolha é pelo mais barato. É o barato que fica muito caro para a sociedade porque se perde patrimônio ambiental.