Dieese e Kucinski vencem o Prêmio João Ferrador

Troféus foram entregues ontem, na Sede, durante cerimônia que comemorou os 51 anos de existência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.


Prêmio por um Brasil melhor


Sérgio Nobre comentou que a votação provocou intensos debates na categoria

O jornalista Bernardo Kucinski e o Dieese foram os ganhadores do Prêmio João Ferrador de Promoção da Cidadania 2010, entregue na noite de ontem em cerimônia que comemorou os
51 anos do Sindicato. A escolha se deu por voto direto da categoria.

Receberam menção honrosa a Sempreviva Organização Feminista (SOF), o Movimento da Luta Antimanicomial, Ivan Seixas, do Conselho de Defesa da Pessoa Humana, e Lula Ramires, da ong Corsa, que defende os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros.

“O prêmio João Ferrador provocou intenso debate na categoria. Não foi surpresa o Dieese ganhar, pois a categoria convive com ele e reconhece a entidade há muito tempo”, disse Sérgio
Nobre, presidente do Sindicato.

“Também teve muito debate sobre a SOF e a Luta Antimanicomial, e isso foi fantástico”, prosseguiu.

Para ele, Bernardo Kucinski ganhou na categoria personalidade porque o trabalhador quer a democratização da mídia. “Mostra o quanto o tema é importante para a população”, comentou.

A indicação de Lula Ramires também provocou bastante debate. “Fiquei sabendo que tanto os servidores de Diadema quanto os bancários de São Paulo têm nas suas convenções coletivas o
direito ao convênio médico aos companheiros e companheiras dos homossexuais e esta será uma das nossas reivindicações na próxima negociação”, adiantou.

O que os homenageados disseram

“O João Ferrador é o prêmio mais importante que recebo em mais de 40 anos de jornalismo. Estar na Sede do Sindicato para recebêlo representa um encontro com minhas origens. Comecei minha vida profissional como metalúrgico, fui sócio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e o primeiro jornal em que escrevi era dirigido para metalúrgicos. O Prêmio João Ferrador me remete também às gigantescas assembleias que cobri como jornalista no final dos anos 1970. Lembro particularmente a assembleia do dia 1º de maio de 1979, quando me avisaram da morte do delegado Sérgi Paranhos Fleury. Aquela morte representou a morte da tortura política no Brasil. E aquele dia representou a morte da ditadura militar, matada pelos metalúrgicos do ABC. As armas foram as greves e João Ferrador foi uma de suas munições”.
Bernardo Kucinski

“O prêmio representa um desafio para que continuemos a fazer nosso trabalho, para que todos no Dieese continuem desenvolvendo o trabalho que trouxe esse prêmio. Significa também um
incentivo para que continuemos no movimento sindical, junto com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é uma referência para os trabalhadores brasileiros, junto também com as centrais. O Prêmio João Ferrador é um incentivo para continuarmos nesse caminho e que todos nós possamos construir, juntos, um País mais justo, fraterno e igualitário.
Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese

“A indicação e homenagem do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a um homossexual assumido é histórica. Da mesma forma que as pessoas não imaginavam que Lula seria presidente da República, eu nunca imaginei que um homossexual fosse homenageado por um sindicato. Esse é o papel do movimento social: unir todos em uma luta comum, pois apesar dos avanços obtidos nos últimos oito anos, a luta não acabou e ainda existe muita transformação que precisamos fazer neste País”.
Lula Ramires

“Eu era metalúrgico quando, em 2002, fui afetado por um transtorno mental. Passei a ser chamado de doidão. Estava sem emprego, sem família, doente e abandonado, quando o Movimento pela Luta Antimanicomial perguntou como podia me ajudar e cuidou de mim. O Sindicato também fez isso quando abriu suas portas para um encontro nacional do movimento. É assim que avançamos. Usamos uma frase: nos dê uma oportunidade”.
Orlando Felipe Vieira, da ong De Volta para Casa, que representou o Movimento da Lula Antimanicomial

“A SOF existe desde 1963, participamos do Instituto Cajamar e dos debates sobre cotas no
PT e na CUT, pois as mulheres são minoria nos espaços de poder. Desde 2000, levamos às
mulheres para as ruas com a Marcha Mundial.
Desenvolvemos um feminismo de resistência por um projeto de igualdade no País. Tenho orgulho de ser homenageada por este Sindicato que é a referência para a classe trabalhadora no Brasil”.
Sônia Coelho, Sempreviva Organização Feminista (SOF)O ativista político Ivan Seixas, outro dos concorrentes, não pode participar por problemas particulares.