30 anos da greveque mudou o País

No dia 1º de abril de 1980, cerca de 200 mil metalúrgicos do ABC iniciaram uma das maiores greves gerais da categoria. Os militares que governavam o Brasil responderam com a ocupação policial da região e a proibição de qualquer manifestação. No dia 1º de maio, mais de 120 mil pessoas desobedeceram as ordens e saíram às ruas. A repressão recuou. Nem todas as reivindicações foram atendidas nos 41 dias de paralisação, mas a resistência dos trabalhadores mudou a história do Brasil.


Com a proibição de assembleias no Vila Euclides, metalúrgicos se reúnem na Igreja Matriz

Os 41 dias que mudaram o Brasil

Os metalúrgicos do ABC iniciaram a Campanha Salarial de 1980 dispostos a prosseguir na luta iniciada em 1978 para recuperar as perdas impostas pela ditadura militar que ocupava o poder no País desde 1964.

O governo pensava o contrário. A farsa do milagre econômico (processo de crescimento da economia pelo grande endividamento externo) que sustentara o regime tinha acabado. A inflação havia chegado aos 120% anuais e consumia rapidamente os salários. Só os juros da dívida externa custavam cerca de 13 bilhões de reais ao ano.

Os militares decidiram que esse dinheiro devia sair do arrocho salarial. Por isso não permitiriam reajustes, já que naquela época a política salarial era ditada pelo governo. Os metalúrgicos não deram atenção e encaminharam uma pauta que, além do aumento real de 15%, tinha entre os principais itens reajuste trimestral, semana de 40 horas, representante sindical na fábrica e garantia de emprego por 12 meses para evitar a rotatividade.

Braços cruzados
O movimento sindical tinha claro que essas reivindicações só seriam alcançadas com uma greve muito bem organizada, que prosseguisse independentemente da repressão policial,
intervenção no Sindicato, prisão de dirigentes etc.

Assim, a mobilização para a Campanha intensificou-se. As horas-extras deixaram de ser feitas e a população dos bairros começou a ser envolvida. Entidades e instituições – como a Igreja Católica – também.

No dia 1º de abril a greve foi deflagrada pela quase totalidade dos cerca de 200 mil metalúrgicos da região.

Boa parte de quem cruzou os braços foi ao Estádio de Vila Euclides – atual 1º de Maio -, em São Bernardo. A adesão ao movimento impressionou a população e os demais metalúrgicos.

Dias depois a paralisação se estendeu a várias outras cidades no Estado.

Encurralados, os pelegos da federação oficial dos metalúrgicos fecharam um acordo de 5% de reposição e nada mais. As bases não aceitaram e prosseguiram com os braços cruzados.

Levada a julgamento, o Tribunal do Trabalho recusou-se a declarar a greve ilegal e concedeu reajuste entre 6% e 7%, mas nada de garantia no emprego ou representação sindical. Os trabalhadores do interior aceitaram a proposta. Os do ABC, não, e o movimento prosseguiu.