Trabalhador encontra novas formas de luta


Derly aponta o irmão Devanir ao lado de outros trabalhadores na Toyota

“O golpe militar fez com que os sindicatos deixassem de ser um espaço de organização dos trabalhadores”, afirma o metalúrgico Derly José de Carvalho, da primeira diretoria do Sindicato (1963/65), irmão de três dos quatro homenagea-dos na próxima segunda-feira, às 18h, na Regional Diadema. “Tivemos que procurar outras alternativas para manter a luta por democracia e melhores condições de vida”, lembra.

Militante do Partido Comunista Brasileiro, Derly teve que passar para a clandestinidade, mudando de casa e de nome para prosseguir a luta. “A maior parte dos dirigentes dos sindicatos dos metalúrgicos, da Construção Civil de São Bernardo e dos Marceneiros era comunista”, prossegue.

“Meus irmãos Devanir, Joel, Daniel e Jairo só entraram no partido depois do golpe, quando eu já estava na clandestinidade. Por isso, puderam continuar em seus empregos”, comenta.

Homenagem – Dos cinco irmãos, quatro foram presos em maio de 1969 – só Devanir conseguiu escapar. O metalúrgico Aderval Alves Coqueiro também foi preso nesse momento.

“Todos nós fomos torturados pela equipe do delegado Fleury. A tortura foi a forma encontrada pela ditadura para eliminar a organização dos trabalhadores e acabar com a resistência a um governo ilegal, inconstitucional”, afirma Derly.

Os três irmãos e Coqueiro ficaram no Presídio Tiradentes, em São Paulo, até janeiro de 71, quando foram libertados em troca do embaixador suíço Giovani Enrico Bucher e levados para o Chile. Desconfiados com a pouca segurança do esquema para retornar clandestino ao Brasil, Derly e Jairo embarcam para a Europa. Joel e Daniel somem quando tentam entrar no País e hoje estão na lista dos desaparecidos políticos.Coqueiro saiu da prisão antes, trocado pelo embaixador alemão, e foi para a Argélia. Dois dias depois voltar clandestinamente ao País, é assassinado pela repressão. Devanir havia sido preso em 71, morrendo sob tortura.

Democracia – Derly diz que eles não foram vítimas da ditadura. “Éramos pessoas com sonhos de uma sociedade mais justa, com os trabalhadores assumindo o controle do Estado. Tínhamos consciência de classe, não eramos submissos e nem alienados”, destaca.

Ele também não aceita a definição de terrorista, como foram chamados pelos militares.

“Pegamos em armas contra a ditadura porque os militares pegaram em armas para derrubar um governo democrático. Quem torturou e assassinou trabalhadores?”, pergunta.

Para Derly, a democracia que o País tem hoje também existe graças a esse enfrentamento com a ditadura.

“Nossa luta de resistência conseguiu fazer com que outros setores também participassem da luta contra o regime militar”, conclui.