Jornal Folha de S. Paulo e sua barriga monumental

Em julho, jornal afirmou, com chamada de primeira página, que gripe suína, atingiria 35 milhões de pessoas, em dois meses. As mortes pela gripe no Brasil foram 1.031 até agora (gripe normal mata 4 mil por ano no país). A Folha deu uma barriga, jargão jornalístico que significa que o jornal publicou uma notícia que não se confirmou

No último sábado (19/9), fez dois meses que a Folha de S.Paulo publicou, em edição de domingo e na primeira página, um dos maiores absurdos da história do jornalismo brasileiro, que pode ser conferido abaixo, na reprodução da capa daquele fatídico dia: “Gripe suína deve atingir pelo menos 35 milhões no país em dois meses”, vaticinou a o jornal.

 

Este observador já escreveu sobre o assunto (aqui e aqui), o próprio ombudsman do jornal repreendeu a Redação, mas é preciso voltar ao tema para que os leitores tenham a exata dimensão da barbaridade publicada pela Folha em 19 de julho. Se de fato 35 milhões de brasileiros tivessem sido contaminados pela gripe suína – Influenza A (H1N1), no nome científico -, pela estimativa de letalidade publicada na imprensa (0,6%, em média), 210 mil brasileiros já deveriam ter morrido da doença. Até domingo (20/9), porém, foram notificadas exatas 1.031 mortes em decorrência da gripe suína. A cada ano morrem, da gripe “normal”, cerca de 4,5 mil brasileiros, especialmente no inverno.

Sem limites
A verdade é que a Folha cometeu terrorismo ao levar para primeira página um título irresponsável e jornalisticamente inaceitável, como deu a entender o ombudsman do jornal. Uma reportagem como a que saiu no jornal que se arvora o mais importante do país serve apenas para disseminar o pânico, deixar a população amedrontada.

Agora, dois meses após o vaticínio, terá a Folha a coragem necessária para reconhecer o erro? Ou será que vai tudo passar em brancas nuvens, sem maiores esclarecimentos. Os leitores deste Observatório (e também os do jornal) já sabem: a gripe suína nem de longe infectou 35 milhões de brasileiros. E nem vai infectar, até porque a vacina já está praticamente pronta para ser aplicada em larga escala no país. O mínimo que o leitor do jornal merecia, portanto, é uma reportagem explicando por que o jornal cometeu um erro de avaliação tão grotesco. Uma notinha escondida na coluna “Erramos” não é suficiente para reparar o que saiu na primeira página de uma edição dominical.

No fundo, tal gripe suína foi mais uma grande cascata da imprensa, como o Ebola e certas “crises políticas” geradas no conforto das redações. A irresponsabilidade deveria ter limites. Na Folha, ao que parece, não há limites.

Por Luiz Antonio Magalhães em 22/9/2009