SUS – os difíceis caminhos da saúde

Parece chover no molhado escrever sobre as agruras do nosso sistema de saúde pública. Entre os mais badalados do mundo pelos especialistas e entre os mais mal avaliados do mundo pelos usuários, o SUS vai vivendo seu inferno astral há exatos 21 anos. Uma maioridade que na prática ainda não se rea-liza pelos imensos conflitos de interesses que permeiam sua existência.

Para enumerar, citemos como ponto de partida o desinteresse  da classe política brasileira, majoritariamente elitista e movida à milhões de reais da medicina privada que faz das doenças um negócio como outro qualquer e um meio de obtenção de enormes lucros.

Somam-se aí interesses igualmente milionários da indústria farmacêutica, da indústria de tecnologia diagnóstica e uma cultura médica ocidental basea-da nos parâmetros americanos.

Uma realidade ainda mais triste é que, mesmo entre os gestores do SUS, em geral secretários de Saúde dos estados e municípios, e também entre os quadros técnicos e políticos do Ministério da Saúde, existe uma enorme confusão conceitual entre medicina (atendimento médico ambulatorial e hospitalar) e saúde pública.

É essa confusão que causa enormes estragos nas poucas estruturas públicas que ainda funcionam e impede que outras estruturas imprescindíveis sejam criadas. Uma das consequências dessa confusão é a forma de avaliação da eficiência da saúde pública através de instrumentos de produtividade da medicina assistencial.

Pode-se avaliar um sistema de atendimento médico pelo número de pacientes atendidos em relação ao número de profissionais disponíveis, e atribuir aspectos qualitativos como evolução e cura das doenças, reincidências, prevalências, óbitos etc.

A saúde pública deve ser avaliada por outros parâmetros.
Uma boa saúde pública deve ter índices controlados e decrescentes de ocorrências das moléstias infecciosas como dengue, febre amarela, hepatite, hanseníase, tuberculose, meningite, AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis.

Também devem estar sob controle as doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes, câncer de mama e de próstata, osteoporose, obesidade e outras doenças dos adultos, e as doenças materno infantis como desnutrição e verminoses.

Isso se faz com investimentos em programas de saúde da família, saúde da mulher, atenção pré-natal e ao recem nascido, imunização infantil, atenção nutricional, enfim, coisas diferentes da simples produtividade numérica.

Esses são os enormes obstáculos que o presidente Lula e o ministro Temporão têm enfrentado.

Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente