60 dias de desespero

“Estamos humilhados porque fomos chutados como cachorros”. O desabafo resume o sentimento dos 128 trabalhadores na Cross Hueller, que funcionava dentro da ThyssenKrupp, em Diadema, e foram demitidos há 60 dias sem receber as verbas rescisórias.
Parte deles se reveza num acampamento na porta da fábrica para impedir que o patrimônio e os produtos da empresa sejam retirados. Eles querem garantias de receber seus direitos caso os equipamentos sejam vendidos.
Enquanto o dinheiro não chega, a situação beira o desespero. “Estamos vivendo
da ajuda dos amigos”, conta um companheiro no setor de logística, falando das contas atrasadas.
Já o retificador Ivan Tadeu da Silva teme ser preso por contra no atraso da pensão alimentícia. Mas sua maior preocupação é manter o tratamento de um filho autista. “A gente pega um dinheiro aqui, uma cesta básica ali, num esquema de ajuda e solidariedade”, afirma.
Igualmente preocupante é a situação do companheiro Claudenilson Conceição de Oliveira, que tem de cuidar da esposa, que há três anos sofre graves sequelas de um AVC, e de dois filhos pequenos.
Sem convênio médico, cortado pela fábrica, tem de pagar o tratamento do próprio
bolso.

Humilhação
A maioria do pessoal estava há vários anos na Hueller sendo que alguns chegam a 35 anos no mesmo emprego.
Também é comum entre eles a dedicação à empresa em todos esses anos.
“Foram muitos finais de semana de trabalho, madrugadas, viagens de até seis meses e agora a fábrica vira as costas para nós”, diz com tristeza um mecânico da assistência técnica que prefere não ser identificado.
Os companheiros falam ainda da discriminação do RH da Thyssen desde que começaram o acampamento.
Eles foram proibidos de usar o banheiro e o bebedouro da portaria da fábrica e não podem se servir do café.