Reformas de base mobilizam a sociedade

A matéria desta sexta-feira (3) da série 45 anos de 1964 - um golpe contra a classe trabalhadora fala sobre a movimentação popular para uma mudança na Constituição

Em 1962, os debates sobre as reformas de base tomaram conta do Brasil. Para sua implantação, no entanto, era necessário alterar a Constituição. E o governo de João Goulart, o Jango, não tinha os votos necessários no Congresso Nacional. Assim a campanha pelas reformas tomou as ruas do País para pressionar os políticos.

“Os grupos do campo progressista defendiam sua rápida aprovação, enquanto os setores conservadores queriam sua imediata revogação”, escreveu o historiador Jacob Gorender, participante ativo das lutas do período. “Um movimento popular diversificado, reivindicativo e defensor das reformas tomava forma no País naquele momento”, afirmou.

No Nordeste, as Ligas Camponesas e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) intensificavam a atuação em defesa dos camponeses; os trabalhadores urbanos organizaram o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) para coordenar as lutas da classe operária; a União Nacional dos Estudantes (UNE) nunca esteve tão atuante; os “praças” (soldados, cabos, marinheiros) fundaram a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais.


Manifestação das Ligas Camponesas a favor das reformas

 

Elites fazem movimento contrário

As forças conservadoras também se organizaram. A imprensa promovia uma campanha feroz contra as reformas. Todos os dias, os jornais – que tinham um poder comparável ao da televisão hoje – publicavam falsas denúncias sobre a infiltração comunista no governo ou matérias inverídicas sobre corrupção contra o presidente João Goulart.

Empresários, banqueiros e outros representantes das elites econômicas fundaram o IBAB (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), que atuavam em diversas frentes na oposição ao governo.

As entidades davam forte auxílio financeiro às campanhas eleitorais de políticos conservadores; realizavam campanhas para mobilizar a opinião pública contra Jango; e, principalmente, promoviam reuniões entre militares anti-janguistas e membros da burguesia.

Figuras bastante conhecidas até hoje participaram dos dois institutos: o então empresário Paulo Maluf; o banqueiro Walter Moreira Salles (fundador do Unibanco), o economista Roberto Campos (depois ministro do Planejamento do governo militar), o empresário Roberto Marinho (fundador da Rede Globo), e o político Antônio Carlos Magalhães (ex-governador e senador pela Bahia).

Tanto o IBAD quanto o IPES recebiam grande apoio financeiro da Embaixada dos Estados Unidos para desenvolver suas atividades. O governo americano havia decidido que o governo de Jango contrariava seus interesses e resolveu incentivar todas as conspirações que tivessem a intenção de derrubá-lo.