Ambiente|Energia para crescer

O desafio de evitar novas tragédias ambientais na Amazônia

A necessidade de energia elétrica provocada pela nova onda de crescimento leva o país, mais uma vez, a voltar seus olhos para os rios da Amazônia. Agora com o desafio de evitar novas tragédias ambientais

Por Spensy Pimentel

O tom de Managu é angustiado. Baixo para os padrões brancos, braços fortes, pele queimada, “vermelha”, como se dizia nos tempos do faroeste, ele gesticula com intensidade ao falar. Está preocupado com o futuro de sua família e de todo o seu povo. “Outros índios que seguiram o caminho de aceitar esse ‘progresso’ estão sofrendo”, diz. “Depois que tudo mudar, quando chegarmos aqui na cidade para reclamar, vão nos dizer: ‘Agora você não é mais índio, já segue todo o costume do branco, então não podemos te ajudar’.”

Managu é uma das lideranças dos ikpengs – grupo de 320 índios de língua caribe, outrora conhecidos como txicões e habitantes de duas aldeias na região do Médio Xingu. Em fevereiro, protagonizou cena que expôs o desespero que vem se espalhando pelas comunidades indígenas de Mato Grosso, em especial as que vivem nas bacias dos Rios Xingu e Juruena. Como protesto pela falta de consulta às comunidades indígenas sobre os projetos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no Rio Culuene e em outros afluentes do Xingu, os ikpengs tomaram como reféns um grupo de funcionários da Funai e de pesquisadores que faziam estudos complementares sobre o impacto ambiental de uma dessas miniusinas, a Paranatinga II, atualmente em fase de testes.

A manifestação rendeu foto dos índios pintados para a guerra simulando ameaça com bordunas, arcos e flechas aos reféns. E terminou com a ida a Brasília de representantes das comunidades xinguanas, que obtiveram compromisso da Funai de que terão acesso aos estudos de impacto ambiental já realizados, antes que novas pesquisas sejam executadas. Os ikpengs, como vários outros grupos indígenas da região, estão preocupados com o futuro da base de sua alimentação, os peixes, que segundo eles já diminuem nas águas hoje turvas do Culuene (não há, ainda, como saber até que ponto a expansão da soja, com o assoreamento e a contaminação por agrotóxicos, também contribui para a situação).

A preocupação de Managu expressa um debate mais amplo. A retomada do crescimento está fazendo o país voltar a olhar para sua rede hidrográfica, de onde resultam quase 90% da eletricidade que consumimos. E agora em maio novos eventos devem turbinar o debate aceso. O leilão que definirá quem vai construir a usina de Jirau, a segunda do complexo do Rio Madeira, em Rondônia, com 3.300 megawatts, está previsto para dia 12 – o leilão da primeira usina, Santo Antônio, ocorreu em dezembro. Entre os dias 19 e 25, um encontro em Altamira (PA) deve chamar atenção para o próximo alvo dos planos de expansão do setor elétrico, o Xingu. Além das PCHs em seus afluentes, é nesse rio que se planeja construir a megausina de Belo Monte, fonte de conflitos desde os anos 80. O Encontro Xingu Vivo para Sempre pretende retomar uma mobilização de 19 anos atrás. Na época, o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu teve caráter emblemático – além da inusitada presença do músico inglês Sting.

Última fronteira –
Se a economia crescer em torno de 5% anuais nos próximos dez anos, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, prevê que será necessário mais que dobrar o atual parque de geração de energia do país, passando de cerca de 90 mil para 220 mil megawatts até 2030 – dos quais 88 mil a partir de hidrelétricas, boa parte delas na Amazônia. A EPE considera que menos de 10% do potencial hidrelétrico da Região Norte é aproveitado atualmente.

O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), por sua vez, prevê investimentos de R$ 24,3 bilhões até 2010 em geração de energia na Região Norte, incluindo as usinas do Madeira, de Belo Monte e mais seis na bacia do Rio Tocantins. Sem contar os R$ 5,4 bilhões para 4.700 quilômetros de li