Mídia|Ocupação do espaço

Rádio e TV produzem hábitos, informação e opinião. Mas não prestam contas pelo espaço público que ocupam por concessão do Estado.

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A televisão influencia hábitos, valores e é a principal responsável pela informação e formação da opinião pública no Brasil. Sua programação, no entanto, não reflete a diversidade brasileira. O que você tem a ver com isso?

Por Bia Barbosa

Durante a ditadura, no final dos anos 60 um dos interesses declarados do governo era controlar e padronizar as informações, evitando que “bolsões de subversão” se formassem. Nesse cenário a Rede Globo se consolidou como emissora de alcance nacional e diversas outras TVs cresceram. Quase quatro décadas depois, a influência da imprensa escrita continua pequena diante do gigantismo dos canais de televisão. “A maioria absoluta dos brasileiros só se informa e se entretém pela televisão. Ela dita hábitos, valores, forma consensos e organiza, segundo seus interesses, grande parte da sociedade”, acredita o professor de Comunicação da Universidade de São Paulo Laurindo Lalo Leal Filho.

A psicanalista Maria Rita Kehl acrescenta, ainda, que a televisão funciona como formadora não só de opinião, mas de atitudes de consumo: “As novelas, os programas de auditório, os seriados, tudo funciona de modo a ‘educar’ o telespectador a viver de acordo com os parâmetros da sociedade em que o consumo dita as regras da cidadania”. A identificação dessa influência já é antiga.

Em 1998, por exemplo, o levantamento realizado pelo Instituto Jaime Troiano “Estratégias de Consumidor”, sobre a imagem que as mulheres entre 20 e 45 anos de São Paulo, das classes A e B, tinham de si mesmas, revelou que de cada dez entrevistadas nove estavam profundamente insatisfeitas com o próprio corpo. Na avaliação de psicólogos, os números mostram o poder da mídia em formar padrões sociais. Grande parte desses padrões é construída pela teledramaturgia. Resultado de uma luta importante de artistas, diretores e produtores na década de 70 contra os chamados “enlatados” que vinham de fora do país, a novela é hoje dona do horário nobre. “No entanto, muitas vezes a novela idealiza a realidade brasileira e a maquia de acordo com conveniências de mercado”, analisa o ator Sérgio Mamberti, hoje à frente da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.

A diversidade cultural e regional do Brasil parece mesmo longe da programação da TV aberta. O gaúcho Odacir Mendonça Moura, de 62 anos, conta que fora do Rio Grande Sul nunca viu programas que falassem da sua região. Aposentado, ele gosta de assistir a telejornais. “Quem está nos grandes centros nunca fica sabendo o que está acontecendo no restante do país.”

Do outro extremo do Brasil, a advogada paraense Ingrid Leão, de 26 anos, relata que desde que se mudou para São Paulo, há dois anos, nunca viu nada do seu estado na televisão. “A diversidade cultural que temos não aparece. A programação segue o mesmo formato: esporte, humor, auditório, novelas.”

A diversidade cultural e regional, no entanto, deveria ser um dos princípios que regem a radiodifusão, conforme a Constituição – que estabelece também (artigo 221) que a produção e a programação das emissoras de rádio e TV devem atender preferencialmente a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas e respeitar valores éticos e sociais das pessoas e da família. Mas, ainda sem regulamentação, os artigos da Comunicação na Carta Magna seguem ignorados. “A ordem dessas prioridades foi submetida à função de servir de veículo publicitário. A publicidade, que sustenta as emissoras, tornou-se a razão de ser da programação, o que representa uma grave inversão de valores”, afirma Maria Rita Kehl.

Concessões
Os canais de rádio e TV não são de propriedade dos grupos de comunicação. São concessões públicas, dadas pelo Poder Executivo e pelo Legislativo a organizações que pretendem explorar o serviço da radiodifusão. Por ser fisicamente limitado, o espectro eletromagnétic