Economia|Crescem os salários?

Nos últimos anos o trabalhador passou a conviver com reajustes que, apesar de abaixo de um dígito, já superaram a inflação. Mas a sensação de que os assalariados ganham menos do que deviam ainda persiste

Segurança
Paulo: “O trabalhador já sabe que o índice vai ser baixo, mas tem mais tranqüilidade
na hora de fazer as contas domésticas”


Por Vitor Nuzzi

A boa notícia. Os salários começaram a virar o jogo
contra um velho adversário, a inflação, e continuam se recuperando. Ano
passado, 85,7% dos acordos pesquisados pelo Dieese apresentaram
reajuste acima do INPC-IBGE. Incluídos os que conseguiram ao menos
empatar, chega-se a 96,4%. Foi o melhor resultado desde o início do
estudo, em 1996 – década em que o Dieese analisou 5.187 acordos
coletivos.

Ao divulgar o
resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste
ano, o IBGE também trouxe uma informação pouco percebida, mas
reveladora. Dos 596,168 bilhões de reais de PIB a valores de mercado,
368,210 bilhões vieram do consumo familiar. “Um dos fatores que
contribuíram para esse resultado foi a elevação de 6,4% da massa
salarial no trimestre”, diz o IBGE. Na Pesquisa Mensal de Emprego, do
mesmo instituto, a massa de rendimentos nas regiões metropolitanas de
seis capitais analisadas (de SP, RJ, BH, BA, DF, PE) somou 22,9 bilhões
de reais em maio deste ano, crescimento de 5,9% na comparação com o
mesmo mês de 2006.

A má
notícia: os salários continuam, sim, ainda baixos, resultado de anos de
pacotes, inflação descontrolada e políticas desfavoráveis ao emprego. A
recuperação recente da economia ainda não refletiu plenamente no bolso
dos assalariados. Por isso, muita gente desconfia dos índices
inflacionários, com a sensação de que os baixos percentuais não
correspondem à realidade. Afinal, a inflação do ano passado inteiro –
2,81% – perde de longe para a de um único mês há exatos 15 anos: em
junho de 1992 o mesmo INPC passou de 20%.

“É
uma situação paradoxal”, concorda o professor Hélio Zylberstajn, da
Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. “É como se a poeira
tivesse baixado, e agora todo mundo estivesse vendo como o salário no
Brasil é baixo. A distribuição funcional da renda ainda é muito
desfavorável ao trabalhador”, observa.

Então
acontece o que o economista José Silvestre Prado de Oliveira, do
Dieese, chama de “desilusão monetária”. A ilusão era o reajuste em
tempo de inflação elevada, que podia chegar a 100%. “Hoje você vive o
processo inverso. Tem inflação de 4% e acordos de 6%. Houve ganho
real”, observa. Mas existe a percepção de que os índices de inflação
não refletiriam a realidade. Como os índices são médias de variações de
preços, a sensação de cada família varia conforme o peso de cada item
em seu orçamento.

Falta alguma coisa
No Índice de Custo de Vida (ICV) calculado pelo Dieese para São Paulo,
por exemplo, a alimentação pesa 25%. Dependendo do mês, um item pode
subir e outro cair, refletindo na média geral. “A medida de variação
dos preços tem alcançado taxas tão baixas, no período recente, que
chega a provocar, em diversas pessoas, uma reação de incredulidade”,
diz estudo do Dieese divulgado no ano passado. “Parte dessa reação se
deve ao fato de que, em anos anteriores, houve queda no rendimento real
dos assalariados e também crescimento do desemprego, que diminui a
renda familiar disponível, ocasionando queda no nível de consumo das
pessoas.”

Um
exemplo? Em junho, o ICV ficou em 0,15%. A alimentação, sozinha, subiu
0,99% – e um de seus itens, o feijão, 14,85%. Acontece que o transporte
caiu 1,17%, por causa da redução do preço dos combustíveis (-2,86%,
chegando a -9,78% no caso do álcool). Pelo menos em junho, a
alimentação subiu, o transporte caiu, e os componentes do índice, de
certa forma, compensaram um ao outro. Outro exemplo? O IPCA-15,
calculado pelo IBGE, termin