Consumo|Outro cardápio é possível

No dia-a-dia de quem vai à feira ou ao supermercado a pergunta mais freqüente diante dos produtos orgânicos é "vale a pena consumi-los, se são tão mais caros?" Os adeptos garantem que sim

Saúde
Rita: gerando empregos e qualidade de vida com produção de orgânicos


Por Andrea Pilar Marranquiel

A agricultura orgânica pode ser o melhor caminho
para alcançar a segurança alimentar e faz bem ao planeta. A conclusão
está num relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO) apresentado numa conferência
internacional, na Itália, em maio. “A característica mais marcante da
agricultura orgânica é que ela está baseada no uso de insumos
disponíveis localmente e na independência em relação a combustíveis
fósseis; trabalhando com processos naturais, reduz os custos de
produção e o estresse climático”, diz o documento.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos apontou que alimentos de
origem orgânica apresentam, em média, 63% a mais de cálcio, 73% a mais
de ferro, 118% mais magnésio, 91% mais fósforo, 125% mais potássio e
60% a mais de zinco do que os alimentos convencionais. Indicou, ainda,
ter verificado benefícios no tratamento de doenças – e na prevenção do
câncer, pois os orgânicos possuem mais antioxidantes. Uma sopa feita
com vegetais orgânicos, por exemplo, contém seis vezes mais ácido
salicílico (componente produzido naturalmente pelas plantas e que é um
protetor contra estresse e doenças).

E, junto com a ligeira desconfiança do freguês – de que se trata de algo
saudável porém sofisticado -, vem também a questão: por que consumir?
Vale a pena se são, em média, 50% mais caros que os produtos
convencionais? Depende de quanto você acha que pode valer sua saúde, ou
seu plano de saúde ou sua conta da farmácia, raciocina o fotógrafo
Fabrício La Meu. “Sinto-me mais seguro consumindo orgânicos”, diz.
Fabrício destaca ainda a importância dessa cultura para as famílias que
com ela trabalham. Sete em cada 10 produtores de orgânicos do país são
agricultores familiares. O fotógrafo também fica mais tranqüilo por não
ter de desvendar o que está por trás daquelas tabelinhas indecifráveis
em letras minúsculas das embalagens de uma simples geléia. “Dá
tranqüilidade saber o que você está comendo. Não é só o que o
bioquímico sabe.”

Por que,
então, a maior parte da população continua comendo frutas, legumes,
verduras aditivados com agrotóxicos, pesticidas, NPK – adubo químico
encarregado de “enriquecer” o produto com nitrogênio (N), fósforo (P) e
potássio (K)? Por que não há a preocupação em reduzir o preço do que é
melhor para a saúde e o planeta? Uma resposta: porque o mundo do
agronegócio precisa produzir mais em menos tempo. Outra: a indústria
que alimenta populações à base de produtos químicos precisa sobreviver.
E, se procurar mais um pouco, chega-se à indústria farmacêutica –
afinal, gente sadia não precisa de medicamento. E a latifundiários,
multinacionais, governantes, uma vasta “cadeia alimentar” global.

Direto da fonte
O engenheiro Moacir Roberto Darolt fez uma pesquisa com 40 produtores e
observou que, em média, menos de 30% do que o consumidor deixa na boca
do caixa pelo alimento orgânico é destinado a quem o plantou. “É
necessário direcionar estratégias em busca de um ponto de equilíbrio,
de uma escala de produção que permita reduzir custos e melhorar a renda
do agricultor”, defende o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná.

Uma
alternativa que pode mudar a vida de quem produz e de quem consome
orgânicos seria a abertura de canais que encurtem o caminho entre a
roça e a mesa. Exemplo de que isso é viável está na feira do Parque da
Água Branca, na região oeste paulistana.

O
produtor Jorge Horita, de 53 anos, tem uma propriedade de 10 hectares
em Mairinque (SP), onde trabalha com a mulher, a mãe e mais seis
funcionários. Está na feira da Água Branca des