Comportamento|Sexo e algo mais

Algumas acham que a pessoa, e não o gênero, é que importa. Outras não encontraram felicidade no homem. O que move uma mulher a amar outra mulher é a busca da afetividade.


Descoberta
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Mais açúcar, mais afeto

Algumas acham que importante não é o gênero, mas a pessoa. Outras simplesmente não encontraram a felicidade nos homens. Mais que sexualidade, mulheres que amam mulheres são movidas pela busca da afetividade

Por Andréa Pilar Marranquiel

Há mulheres que amam outras mulheres, andam de saia e têm unhas pintadas, fazem academia, trabalham, cuidam de casa, criam filhos. Descobriram que, como mulher, é possível estar com outra igual. Numa sociedade em que aceitar o diferente é um desafio constante, a atitude traz conflitos, questionamentos, crises. Mas também produz histórias interessantes.

A estudante de Comunicação Vivian Casoy, de 23 anos, considera-se cosmopolita. “Adoro idiomas, música de todos os tipos, viajar, transar.” Aos 17, teve sua primeira experiência sexual. Com o namorado. Pouco tempo depois veio a curiosidade, outra característica marcante em sua personalidade. “Pintou um clima” com sua melhor amiga, e logo na festa do namorado dela. “Foi estranho”, admite. Mas a partir daí passou a lidar com uma nova forma de orientação sexual. Já contou para a família sobre sua bissexualidade e, garante, sem pânico nem drama. Vivian não vai a uma balada premeditando se vai ficar com homem ou com mulher. O que importa, diz, é o que rola no momento. “Não vejo diferença quando me interesso por alguém. É a pessoa, não o sexo, que me atrai”, afirma. Perguntada sobre como reagiria se se apaixonasse por uma mulher, Vivian ri: “Seria a mesma coisa… Não consigo ver problema nenhum”.

A situação não é incomum. Mulheres que começam a experimentar a relação com mulheres acreditam que se apaixonam pela pessoa, e não pelo sexo dela. Numa tentativa de não se enquadrar, não se sentir pertencente a um gueto. Para a psicóloga Lívia Monteiro Elias, isso reflete o medo de se colocar em um lugar mais frágil, ou seja, o mundo gay, vulnerável a julgamentos, preconceitos e condenações: “É uma situação difícil para quem sempre viveu uma relação aceita e institucionalizada. É como se, de repente, a pessoa perdesse a referência por estar vivendo algo novo”.

Nem é difícil encontrar exemplos. Não que todos aceitem abertamente a relação homossexual. Mas é típico da cultura se apropriar do que não consegue negar. Então, hoje tem lésbica em filmes, em seriados de TV, até em novelas. A reportagem ouviu vários relatos de mulheres que namoravam homens e passaram a namorar mulheres. Algumas fizeram apenas uma tentativa e voltaram para a praia conhecida. Outras até hoje navegam novos mares. Muitas têm filhos, tinham casamentos aparentemente estáveis e nem sequer conviviam com o mundo gay. Todas “normais”. Exatamente como as pessoas que a gente vê na rua, no trabalho, em casa: simplesmente, mulheres.

Coisas de casal

Até bem pouco tempo atrás, o termo empregado para definir a relação entre pessoas do mesmo sexo era “homossexualismo”, um “ismo” por si só carregado de conotação negativa. Em 1973 a Associação de Psiquiatria Norte-Americana adotou a expressão “homossexualidade”, como forma de definir uma orientação sexual, não uma anomalia que precisaria de tratamento ou cura. Mulheres que tinham essa orientação precisaram ir tateando, buscando seus caminhos.

De acordo com a terapeuta Sylvia Faria Marzano, do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática, de São Caetano do Sul, no ABC paulista, a imagem masculinizada associada a elas pode vir da tentativa de formar um núcleo familiar. “Elas queriam criar uma família sob a concepção clara de uma figura masculina e outra feminina. Hoje isso já não é necessário. Embora ainda exista preconceito, as lésbicas perceberam que não precisam mais seguir papéis e, sendo duas mulheres, podem, sim, formar