Viagem|Friozinho bom e gente boa

A estância de Cunha, entre SP e RJ, oferece ritmo de vida interiorano, ar fresco de montanha, hospitalidade, simplicidade, belezas naturais e história

Por Joás Ferreira de Oliveira

A cidade de Cunha fica no caminho entre Guaratinguetá
(SP), a partir da Via Dutra, e Paraty (RJ). Incrustada no meio das
serras da Bocaina, do Mar e do Quebra-Cangalha, tem encantos naturais,
tradições culturais ricas e um povo acolhedor como seu clima temperado,
que sempre reserva um friozinho bom à noite, em qualquer estação do
ano. No inverno, porém, pode cair abaixo de zero, convidando para o pé
da fogueira, junto da lareira ou1 do fogão a lenha.

Ao
deixar a Via Dutra (saída 65), o viajante já sente a diferença. Logo
depois, ao transpor a Serra do Quebra-Cangalha, durante oito
quilômetros, a mudança é gritante, com poucos carros na estrada e
paisagens deslumbrantes. A cidade fica a 45 quilômetros da Dutra.

Os
atrativos começam pelos diversos ateliês de cerâmica de alta
temperatura. O primeiro forno a lenha, do tipo noborigama – técnica
trazida do Japão, em que o forno é construído em degraus com diversas
câmaras de queima, geralmente aproveitando os desníveis do terreno -,
começou a funcionar há 30 anos. De lá para cá, a atividade agregou
outras técnicas e incorporou-se à identidade local. Periodicamente, em
geral nos feriados prolongados e na alta temporada, durante o Festival
de Inverno, esses ateliês promovem eventos em que exibem a abertura de
fornadas, apresentando em primeira mão as peças “quentinhas”.

Nascentes,
córregos, riachos e cachoeiras se espalham pelos seus 1.410 quilômetros
quadrados de extensão territorial. É um dos maiores municípios
paulistas – tecnicamente, faz “fronteira” com cidades tão distantes
como Guaratinguetá e São Luiz do Paraitinga (em SP) e Paraty e Angra
dos Reis (no RJ).

Cunha possui
expressivas reservas da Mata Atlântica, um dos mais importantes biomas
do planeta. O Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Cunha-Indaiá, por
exemplo, preserva áreas com a exótica vegetação nativa e a conhecida
diversidade de sua fauna, dos milhares de espécies de insetos e
passarinhos aos bichões como anta, paca, onça, bugio, gavião. Para os
viajantes, o parque organiza três tipos de trilha: a Trilha das
Cachoeiras (6.800 metros de carro mais 7.600 a pé), a Trilha do Rio
Bonito (7.600) e a Trilha do Rio Paraibuna (1.700). Entre as
cachoeiras, destacam-se as do Pimenta, do Desterro, do Mato Limpo e as
várias quedas do Parque Estadual.

O
espetáculo visual que cerca a região pode ser testemunhado da Pedra da
Marcela. Especialmente nos meses de inverno, quando o céu é mais limpo,
o passeio até lá, a 1.840 metros de altitude, é imperdível. O acesso a
esse mirante natural fica no km 61 da Rodovia Cunha-Paraty. São quatro
quilômetros em estrada de terra mais uma caminhada de dois quilômetros.

Na
cidade, o visitante dispõe de bons restaurantes e pousadas e pode
conhecer algumas construções do século 18, como as igrejas Nossa
Senhora da Conceição, Rosário e São Benedito. Há também o Mercado
Municipal (de 1913), o Museu Francisco Veloso e a Casa do Artesão.
Entre os principais eventos religiosos, estão a Festa do Divino (em
julho), a Procissão de Corpus Christi e a festa da Padroeira Nossa
Senhora da Conceição (em dezembro).

A
agenda cultural da cidade inclui ainda a Festa do Pinhão (em abril e
maio), com barracas e shows, e o Festival de Inverno Acordes na Serra
(em julho), com apresentações musicais nas igrejas, no antigo cinema e
na praça pública.

Boca do Sertão

No
final do século 17, viajantes e aventureiros saíam de Paraty com
destino ao sertão de Minas Gerais em busca de ouro e pedras preciosas.
Ao passar pela localidade onde se ergueu a cidade de Cunha, então
conhecida como Boca do Sertão, eles paravam para descansar e
reabastecer as tropas. No início do século 18, intensificou-se a
movimentação de tropeiros que transportavam o ouro de Minas Gerais.
Eles seguiam até Paraty, onde a carga preciosa era embarcada para
Portugal.