Fórum Social Mundial|O Brasil visto da África

Em Nairóbi, o país-berço do FSM perdeu espaço para as novas estrelas da América Latina, mas segue bem situado no imaginário dos africanos

Por Cristina Charão

    Ecologia
A preocupação da queniana Wangari Maathai, Nobel da Paz em 2004, é em relação ao futuro da Amazônia

Os movimentos sociais do continente-berço da
humanidade olham para a América Latina com ares de irmão mais moço.
Ainda se reerguendo das recentes lutas pela independência ou buscando
contornar anos de guerras fratricidas, a África que recebeu o Fórum
Social Mundial vê nos países latino-americanos exemplos de processos de
fortalecimento da sociedade civil organizada que levaram ao surgimento
de governos populares.

Foi nesse
contexto “latino” que o Brasil foi lembrado pelos ativistas do outro
mundo possível que se reuniram em Nairóbi, no Quênia. Aos olhos dos
ativistas africanos, em especial, o Brasil tem status de país movido
por uma sociedade civil forte, com movimentos sociais e populares
capazes de produzir uma resistência eficiente, mas ainda não logrou
transformar o governo de um ex-operário em uma experiência exemplar de
mudança social. Depois de quatro anos de governo Lula e sete de Fóruns
Sociais Mundiais, segue sendo o país da promessa, enquanto os demais
sul-americanos teriam dado mostras mais significativas desse movimento
de mudança.

Fora do Espaço
Brasil – estande montado pela Petrobras para promoção do país e dos
programas sociais apoiados pela estatal – e das atividades organizadas
por entidades brasileiras, o país foi pouco lembrado. As citações sobre
o Brasil, sede do FSM por quatro vezes e presente em Nairóbi com mais
de 400 delegados, diluíram-se nos debates sobre a América Latina e
dividiram espaço com estrelas ascendentes, como Evo Morales (Bolívia),
Rafael Correa (Equador) e Hugo Chávez.

“Os
movimentos sociais de todo o mundo têm uma dívida com os movimentos e
mesmo com os governos do Brasil, porque foi o primeiro país a receber o
Fórum Social Mundial sem nenhuma ingerência. Mas acredito que seu
governo esteja já um pouco comprometido. Espero que o segundo mandato
seja uma oportunidade para se afastar de vez do neoliberalismo”,
resumiu Sara Longwe, integrante do Conselho do Fórum Social Africano e
militante da Rede de Mulheres Africanas pelo Desenvolvimento e pela
Comunicação, na Zâmbia.

Em uma
das raras vezes em que o papel geopolítico do Brasil foi mencionado,
esta citação veio de forma temática. A Nobel da Paz queniana Wangari
Maathai lembrou da responsabilidade planetária do país com relação à
preservação da Amazônia. Segundo ela, o Brasil vive entre duas pressões
internacionais: uma para preservar a maior floresta do mundo, outra
para derrubá-la e transformá-la em pasto. “Até agora, o governo
brasileiro tem sido sensível à nossa pressão pela preservação”, disse.

Apesar
dessa dose de cautela, a imagem que prevalece entre os participantes
africanos do evento é a de um país próspero, que tem logrado diminuir a
pobreza e aumentar a justiça social. Assim o descreveu Dixon Hatata,
queniano que trabalhou na segurança do Fórum. Citou, por exemplo, que
os índices de pobreza vêm diminuindo mais aceleradamente, embora “Da
Silva” não consiga ter o mesmo impacto que “o presidente Chávez, da
Venezuela”. O conhecimento demonstrado por Hatata sobre o Brasil está
bastante acima da média do verificado dentro da seleta amostra da
população africana que freqüentou as dependências do Moi International
Centre durante o FSM.

Via satélite

É perceptível que informações sobre o Brasil, cujo presidente foi às
Nações Unidas reclamar a participação dos países ricos no combate à
miséria que assola o Hemisfério Sul, não circulam com freqüência no
continente mais empobrecido do plan