Brasil|O desafio de disputar o poder

Enquanto o governo costura alianças para ganhar força no segundo mandato, movimentos populares buscam unidade para mudar da economia ao sistema político, disputar a agenda do país, fortalecer a democracia e avançar nas conquistas sociais

Por Patrícia Bonilha

Às vésperas do início do segundo mandato do governo Lula, o clima entre os movimentos sociais ainda é um misto de balanço e ressaca. Para esses movimentos, pratos como a ampliação da democracia, o fortalecimento dos canais de participação popular em contraponto ao sistema político fisiológico, a ruptura com o modelo econômico foram apreciados pela primeira gestão Lula com excessiva moderação. “Houve um pouco de ingenuidade em achar que o governo iria, espontaneamente, valorizar e contar com os movimentos sociais. Isso não aconteceu. Caíram as ilusões”, considera dom Demétrio Valentini, coordenador da Semana Social Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente da Cáritas Brasileira.

Embora reconheçam a importância dos programas sociais adotados, parcelas dos representantes dos movimentos consideram que o governo continuou privilegiando o mercado financeiro. “Em 2006 foram destinados ao programa Bolsa Família

8 bilhões de reais, enquanto 179 bilhões de reais foram para o pagamento de juros da dívida pública. Essa é a opção por um modelo estéril, que não gera empregos, que não gera riquezas”, afirma Maria Lúcia Fattorelli Carneiro, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida e vice-presidente da Unafisco Sindical, entidade que reúne os auditores da Receita Federal.

O grande consenso entre os movimentos sociais é de que é preciso ousadia para romper com o conservadorismo do modelo econômico. “Nossa pauta ainda está sendo construída, mas a mudança da política econômica é, sem dúvida, a mais urgente. Queremos o fim da concentração de renda, de riqueza e de terra no país − o sistema que privilegia os lucros das empresas privadas, o superávit primário e os altos juros e só aumenta a desigualdade social”, declara a coordenadora nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), Marina dos Santos.

As organizações criaram fóruns para formular propostas alternativas para apresentar ao país e ao governo e uma agenda de lutas comuns, tais como: auditoria da dívida pública interna e externa; anulação do leilão de privatização da Vale do Rio Doce; política de valorização do salário mínimo; reajuste da tabela do Imposto de Renda; redução do superávit primário; mudança na estrutura do Conselho Monetário Nacional (CMN).

O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos, afirma que a entidade pretende ir além dos slogans e palavras de ordem por mudança da política econômica. Ele diz que existem propostas concretas, mas é preciso conquistar espaço para que tenham trânsito. E cita como exemplo a participação de representantes dos trabalhadores e dos empregadores no CMN. “Também reivindicamos a inclusão de duas metas no debate das reuniões do CMN: crescimento econômico e geração de empregos. Esses são alguns dos mecanismos para construir uma inserção da socied