Trabalho|De olhos bem abertos

A aviação brasileira e alguns aeroportos do país estão entre os mais avançados do mundo. Mas, se os profissionais que cuidam do tráfego aéreo não trabalham em condições adequadas e sua condição humana é desrespeitada, o céu que nos proteja

Por Vitor Nuzzi

Além do limite
Há anos os controladores de vôo e de torre operam com sobrecarga de trabalho e ganhando pouco. Atrasos não são novidades

Com mais de 30 anos de experiência profissional, José Manfredo não se animou quando soube que um de seus filhos pretende seguir seus passos quando ingressar no mundo do trabalho, apesar de ter orgulho do que faz. José Manfredo é controlador de vôo – profissão que pouca gente se dava conta de que existia e, de repente, se tornou uma das mais comentadas do país. “Houve uma época em que eu ganhava o equivalente a 2,5 salários mínimos. Não tinha dinheiro para ir trabalhar”, lembra o profissional, que recebe salário de aproximadamente 2.800 reais líquidos, além de um auxílio-alimentação de 140 reais. “Se eu fosse ganhar metade do que recebe um controlador nos Estados Unidos, seriam uns 10 mil reais”, calcula.

A categoria dos controladores de vôo ganhou fama após as confusões para embarque e desembarque às vésperas de feriados virarem notícia, lembrando as reportagens de apertos em rodoviárias abarrotadas que costumavam ser feitas nessas épocas. Para Manfredo, a fama é injusta, pois logo de início eles apareceram na história como vilões. “Não existe operação tartaruga, greve branca, nada disso. É triste você pegar um jornal ou revista e ver gente que não entende nada de aviação achar que estamos atrapalhando a vida das pessoas”, critica. “A nossa preocupação é com a segurança. Não podemos errar.”

Segundo ele, os controladores operam com sobrecarga de trabalho há muito tempo. E nem é de hoje que parte dos vôos apresenta algum atraso. Mas por que a situação teria explodido só agora? “A verdade é que as autoridades não estavam nem aí. Estávamos trabalhando acima da capacidade, controlando mais aviões do que deveríamos, e de repente um avião caiu”, afirma, referindo-se ao acidente com o Boeing da Gol e o Legacy, no final de setembro, no qual morreram 154 pessoas.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, acredita em uma normalização da situação. “Isso, aliás, já vem ocorrendo. Espero que nos feriados de Natal e Ano-Novo a situação esteja praticamente normalizada. É bom lembrar que atrasos em horários de vôos ocorrem sempre, em todo o mundo. A normalização completa da situação, no Brasil, deve se dar já nos primeiros meses do próximo ano”, estima.

O sistema tem hoje 2.706 controladores, dos quais 2.112 militares (a maioria sargentos), 499 civis (contratados pela Infraero, que administra os 67 aeroportos do país) e 95 servidores federais, que são subordinados ao Comando da Aeronáutica.

Para entender melhor a situação, é preciso antes de mais nada ter em conta que se trata de um ambiente militarizado, o que prov