Viagem|Muito antes de Colombo

O Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana, em Santiago, remete a civilizações que habitaram o continente até 5 mil anos atrás

Por Paulo Donizetti de Souza

Estátuas de madeira dos mapuches: guardando os corpos para que as almas descansem

Para os mapuches, nativos do sul do Chile, grandes estátuas em forma humana talhadas em madeira eram parte essencial dos funerais de seus familiares. Elas eram colocadas junto ao defunto, enquanto parentes e amigos recordavam em discursos as grandes realizações do homenageado. Ao final, a estátua gigante era posicionada como se fosse uma lápide. A morte é elemento de equilíbrio entre as forças que mandam no universo. E o ritual, bem executado, era a segurança de que o espírito do falecido viajaria direitinho, ao encontro de outras almas para, do além, olhar pelos vivos. Mas, se os familiares descuidassem do ritual, a alma do ente querido poderia ser capturada por algum bruxo no trajeto e virar um espírito do mal.

Essa cultura é relativamente recente, já que, estimam os estudiosos, acontecia apenas desde há 800 anos até o início do século passado, nos chamados Andes do Sul, uma das subdivisões da América pré-colombiana, onde civilizações genuinamente americanas já se sentiam em casa muito antes de o espanhol Cristóvão Colombo amarrar seu barco no continente, em 1492.

Centenas dessas culturas e civilizações têm parte de sua história ricamente organizada num dos mais importantes acervos artísticos do gênero no mundo, o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana (www.precolombino.cl). O museu – bem no centro de Santiago – guarda histórias de mais de 5 mil anos de povoamento da América. Setores da comunidade científica acreditam, inclusive, que o continente é habitado há cerca de 20 mil anos.

Mas nem tudo é tão mórbido nessa rica e longa história. Os espanhóis que ocuparam a região onde hoje fica o México foram os primeiros a descrever, muito antes do inglês Charles Miller batizar o futebol, um juego de pelota chamado ulamalixtli. Há mais de 2.500 anos, era uma atividade tradicional dos povos asteca, olmeca, veracruz, zapotecas, toltecas e maias. A arquitetura urbana dessas civilizações favorecia a proliferação de campos e praças perfeitos para a prática do esporte – que na verdade era um ritual lúdico por meio do qual comunidades resolviam conflitos políticos e bélicos e ainda agradavam os deuses encarregados de proteger suas plantações.

O acervo artístico-arqueológico permite supor que os jogadores usavam protetores nos olhos, cintura, “partes-baixas”, joelhos. E tinham de fazer uma pesada bola de cera passar por um aro situado no meio do campo. Só valia empurrá-la com os quadris ou braços. Dois times se enfrentavam e… aí acaba a parte esportiva da coisa: os perdedores iam para o sacrifício, condição exigida pelas forças celestiais para manter a fertilidade do solo. Ou seja, a decapitação dos perdedores era literalmente a salvação da lavoura.

História e poesia

Permanecer horas num museu como o precolombino, de preferência solicitando a ajuda de monitores para entender todos os det