Brasil|Legitimidade para prosseguir

Apesar
da larga
vitória de
Lula, analistas
prevêem
dificuldades
nas
negociações
entre o
presidente
e o novo
Congresso

Lula diz que o novo governo se chamará “desenvolvimento”. Mas, na agenda do país, a pressão da sociedade será decisiva para apontar os rumos do governo, do Congresso e a qualidade do segundo mandato

Por Vitor Nuzzi

Luiz Inácio Lula da Silva esperou o telefonema do adversário Geraldo Alckmin – às 20h do domingo 29 de outubro – para então fazer as primeiras declarações como presidente reeleito. Na semana que se seguiu à vitória, a confirmação da vantagem de quase 21 milhões de votos foi interpretada pelo presidente como “plena legitimidade” ao exercício do poder. E citou uma série de certezas para o próximo período: “O nome do segundo mandato será desenvolvimento – desenvolvimento com distribuição de renda e educação de qualidade”, afirmou, em pronunciamento no dia 31. Já não se trata de promessa de campanha, mas de compromisso a ser cobrado ao longo dos próximos quatro anos.

Para se antecipar a essas cobranças, Lula aposta que o palanque eleitoral montado desde o início do ano passado pela oposição se desarme e dê lugar ao debate político: “Conclamo toda a sociedade, a começar pelas lideranças políticas e movimentos sociais, a unirmos o Brasil em torno de uma agenda comum de temas de interesse geral”. Ou seja, Lula sabe que terá de enfrentar dificuldades no Congresso e com a oposição, e alerta a sociedade, inclusive os movimentos sociais, a tomar assento no jogo.

Para o analista Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o governo corre o risco de fazer “concessões à direita” na Câmara e de ter dificuldades ainda maiores no Senado. Mas ele não vê espaço para o fisiologismo, o toma-lá-dá-cá. “Acho que não há ambiente para isso. Tudo o que aconteceu foi por causa desse apetite. Com as instituições funcionando, a imprensa fiscalizando e a sociedade vigilante, essa possibilidade é bem menor.”

Levantamento feito pelo Diap mostra uma Câmara menos socialdemocrata e mais liberal, por causa da formação e da fonte de renda dos novos parlamentares. Por isso, o Diap vê inclusive “espaço para novas tentativas de propostas em bases neoliberais, como a flexibilização da legislação trabalhista”. Segundo o perfil ideológico preparado pelo instituto, 36% dos parlamentares que assumirão em 2007 são de centro-esquerda, 33% estão no campo da centro-direita e 31%, no centro. Mais da metade (52%) são profissionais liberais e 23% são empresários.

O professor Paulo Roberto Figueira Leal, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), também vê dificuldades para o novo governo: “É muito pouco provável que a oposição dê trégua a Lula”. Isso também dependerá de entendimentos internos no bloco de oposição, acredita o professor, que põe de um lado os governadores eleitos de Minas Gerais e São Paulo, Aécio Neves e José Serra, e de outro o candidato derrotado Alck