Trabalho|Viver e trabalhar com HIV

Silvia contou
com o apoio
da empresa
em que
trabalha
para superar
a doença:
“Discriminar
uma pessoa
soropositiva
é a mesma
coisa que dar
um atestado
de morte
social”

Empresas que estimulam o respeito aos funcionários com aids disseminam bons hábitos para a produtividade – como informação, companheirismo e proteção social – e podem ajudar a combater o avanço dessa epidemia

Por Tatiana Vieira

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que mais de 38 milhões de pessoas vivem com o HIV em todo o mundo e duas de cada três dessas pessoas possuem emprego fixo. A telefonista Silvia Almeida, 42, é uma delas. Trabalhando há 22 anos na mineradora Anglo American Brasil, descobriu-se soropositiva em 1994, após dez anos de empresa. Na época, nem ela nem o marido, de quem contraiu a doença, imaginavam fazer parte do chamado “grupo de risco”, por serem pessoas casadas. Durante os dois anos seguintes à descoberta, Silvia viveu uma fase difícil: teve de acompanhar a evolução da doença de seu marido até a morte, em 1996, e ainda cuidar do casal de filhos, ambos soronegativos.

A decisão de revelar à empresa sua condição sorológica partiu da telefonista. “Minha vida pessoal estava impactando na empresa devido aos problemas de saúde do meu marido e isso diminuía minha produtividade”, explica Silvia, que contou com o apoio de uma amiga e de diretores da empresa. “Eles agiram de forma solidária e entendiam quando eu precisava faltar por causa dos efeitos colaterais dos medicamentos.” Mas ela evitava faltar. “O HIV precisava ser incorporado à minha realidade de trabalho. E não eu ser incorporada à realidade do HIV. Nunca me permiti ficar em casa deprimida. Preferia trabalhar.”

Atualmente, todos os funcionários sabem que Silvia é uma pessoa que vive com HIV e a empresa transformou a difícil experiência da telefonista em algo positivo. Ela participa de palestras sobre prevenção a DST/HIV/aids promovidas pela Cipa e tornou-se referência no assunto. É comum ver funcionários tirando dúvidas e compartilhando casos pessoais e familiares. “Ensinei para os funcionários o que é ser uma pessoa com HIV. Transmiti tranqüilidade e consegui quebrar a desinformação e o tabu da doença. Quero dividir minha experiência para que as pessoas não sofram o que sofri”, afirma. Para Silvia, a empresa que fecha as portas para as pessoas que vivem com HIV/aids está colaborando para o aumento da infecção e progressão da doença. “Discriminar uma pessoa soropositiva é a mesma coisa que dar um atestado de morte social.”

Ação na Justiça

Não basta a empresa não ter a discriminação como política. Ela precisa disseminar o combate ao preconceito em sua hierarquia para evitar que ele atinja, na ponta, seus funcionários. O hoje comerciário Domingos Ferreira, de 42 anos, é portador do HIV há 22. Ele trabalhou no Unibanco como supervisor de atendimento ao cliente de 1998 a 2003, quando foi demitido um mês depois de informar sua superintendente sobre a sorologia. Na época, entregou uma declaração ao banco pedindo antecipaç&atil