Comportamento|De calças curtas

Gravidez na adolescência também afeta os meninos, mas a atenção dos especialistas é desigual. Informação, cumplicidade e afeto podem evitar ou superar o inesperado

Por Miriam Sanger

Elida Tomazelli Capelassi tinha 15 anos quando nasceu Eliton, seu primeiro filho. Estava na 8ª série ao engravidar. Seu pai ficou furioso. Exigia que se casasse ou fosse embora. O casamento com o namorado, Hércules Capelassi Júnior, chegou a ser marcado. Ela porque queria, ele, à base de pressão. Na hora, o jovem deu o cano. “Eu tinha 16 anos, ainda fazia curso profissionalizante no Senai, estava no meio do colégio, pensava com cabeça de moleque, não tinha a menor condição de assumir um casamento”, justifica o fujão, que passaria os quatro anos seguintes rompido com a mãe de seu filho e sem poder vê-lo. O nascimento do bebê desencadeou o perdão. O avô de Eliton adotou-o como filho. Com o apoio da família, Elida continuou trabalhando – sim, sua adolescência já estava comprometida, antes, com ter de trabalhar –, concluiu o ensino médio e hoje vive situa-ção estável como corretora de imóveis. No último dia 20 de setembro, ela e Hércules, mecânico de manutenção numa fábrica de Santo André, no ABC paulista, completaram 20 anos de casamento. Além de Eliton – metalúrgico em São Bernardo do Campo, que tinha quase 4 anos quando os pais reataram –, têm Bruno, com 16 anos.

Os casos de gravidez na adolescência multiplicaram-se nas últimas décadas e ganharam espaço na agenda de organizações não-governamentais, pesquisadores, meio acadêmico e setor público. Levantamento do Ministério da Saúde aponta que nascem no país, a cada ano, 485 mil crianças filhas de mães com menos de 19 anos. Mas, quando o foco é o pai adolescente, as estatísticas são escassas. Nem o IBGE se ocupou, ainda, em saber se os meninos da casa já são pai. De acordo com estimativas do Instituto Papai (Programa de Apoio ao Pai Jovem e Adolescente), do Recife, cerca de 300 mil dessas crianças têm pais adolescentes.

Essa baixa visibilidade reflete na falta de políticas públicas de amparo ou orientação, no preconceito da família da companheira e de sua própria. “A paternidade precoce é assunto de saúde pública e muitas vezes provocada por desinformações sobre planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis, sexualidade e vida reprodutiva. Esses temas são abordados só com meninas. Os meninos são pouco incluídos nessa etapa”, afirma a médica Maria do Socorro Tavares Gomes, tocoginecologista formada pela Universidade Federal da Bahia e coordenadora do Programa Ação Mulher, da Fundação José Silveira, de Salvador.

Quando se descobre “grávido”, o jovem geralmente vira o “monstro”, para a família da menina, ou o “idiota”, para a própria família. A descrição é do jornalista Gilberto Amendola, autor do recém-lançado Meninos Grávidos – o Drama de Ser Pai Adolescente (Ed. Albatroz, Loqüi e Terceiro Nome): “Tão importante quanto o acesso à informação sobre formas de prevenção é a desmistificação do sexo, para que o adolescente tenha tranqüilidade na hora H. Ele chega tremendo na farmácia para comprar camisinha. Pega a primeira que vê, não consegue colocar direito, fica com medo de perder o momento ou às vezes dá má sorte, a camisinha estoura, some…”, conta.

Para a médica-chefe da Un