Viagem|A rota dos belos horizontes

Primeira capital planejada do país, BH é portal para conhecer história e arte brasileiras

A Igreja da Pampulha, projetada
por Oscar Niemeyer, foi toda
restaurada em 2005

Por Maria Angélica Ferrasoli

Se um dia você for ao Curral del Rey, aproveite para caminhar sem pressa por Guajajaras, Tapuias, Tupinambás, Aimorés, tribos que a cidade guardou em seu centro. Pare para um dedo de prosa entre Drummond e Pedro Nava, descanse um tiquinho ao lado de Henriqueta Lisboa. Confira nesse arraial, que fica a um tirinho de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de Brasília, por que o papa João Paulo II, em 1980, do alto da praça que hoje leva seu nome, exclamou: “Mas que Belo Horizonte!” Belzonte, como se diz em mineirês, é um portal para mergulhar em partes da história do Brasil que tem muito mais que belas igrejas a visitar.

Curral del Rey deu origem a BH. Muito antes, porém, de ser o local onde era reunido o gado que daria conta dos impostos recolhidos por dom João VI, já andavam por ali os índios, cujas tribos passaram a batizar ruas da primeira capital planejada do país. Belô cresceu rodeada pela Avenida do Contorno até virar o terceiro maior centro urbano do Brasil. Hoje, além da homenagem nas placas, tem estátuas em tamanho natural de escritores e poetas, como se de repente fosse possível encontrá-los em pleno passeio pela boêmia Savassi, pela Praça da Liberdade, em frente ao palácio do governo e ao lado de um miniedifício Copan, do mesmo Niemeyer que assina a Igreja da Pampulha, pelo Parque Municipal ou pela grande feira de artesanato, sempre lotados aos domingos.

“A cidade plantou no coração tantos nomes de quem morreu/ Horizonte perdido, no meio da selva cresceu o arraial”, relembra a música Ruas da Cidade, de Lô e Márcio Borges, integrantes do Clube da Esquina. A esquina, no caso, fica no bairro de Santa Teresa, no qual se pode comer uma excelente macarronada por 6 reais no restaurante do Bolão. Mas, se a idéia for degustar algo mais mineiro, nada melhor que o Mercado Municipal. Menos sofisticado que o dos paulistanos, e mais original, nele se encontra do artesanato aos queijinhos, rapaduras e cachaças; do doce de leite às galinhas que vão virar molho pardo. BH ainda oferece uma rara viagem de trem interestadual (ao Espírito Santo). E também não decepciona com sua programação cultural; um dos pólos é o Palácio das Artes, que ladeia o Parque Municipal.

Entorno

Sabará, a 25 quilômetros, além da Igrejinha Nossa Senhora do Ó, de 1719, barroca com traços orientais, tem o segundo teatro mais antigo em atividade no Brasil, construído em 1770 e no qual, conta-se, o imperador acabou vaiado às portas da República. Sete Lagoas, a 76 quilômetros, e Cordisburgo, a 113, terra de Guimarães Rosa, apresentam o espetáculo das grutas, como a do Rei do Mato e a do Maquine – onde se pode explorar um passado de milhões de anos. Ali, antes era o mar, com seus imensos salões e edificações rochosas.

Com tempo, estenda-se aos extremos Diamantina e Tiradentes – a mais preservada do circuito histórico, cenário das minisséries JK e Hilda Furacão, com dezenas de ateliês e um imperdível passeio de Maria-Fumaça à terra de Tancredo Neves, São João del Rey, onde o corpo do presidente não-empossado repousa num túmulo simples, atrás da Igreja de S&atilde