Economia|A hora do emprego

Metalúrgica em Diadema:
hoje o Brasil tem de
tirar o atraso da década de 1990

Cresce a corrente de economistas, empresários, sindicalistas
e
gente do governo que considera superada a obsessão exclusiva
com
metas de inflação e superávit.
É hora de a
economia ter metas de emprego e crescimento

Por Nelson Breve, da Carta Maior

Em 1989 o Brasil ocupava a 13ª colocação
entre os
países com maior desemprego no mundo. Era cerca de 1,8
milhão de desempregados. Nos últimos anos, com
perto de 8
milhões de trabalhadores à procura de uma
colocação, o país passou a responder
por 6% do
desemprego mundial, tendo 3,5% da população
economicamente ativa do planeta, segundo a
Organização
Internacional do Trabalho. A conta não fecha, mesmo com a
recuperação do mercado de trabalho, com saldo
positivo de
quase 5 milhões de contratações
formais nos
últimos quatro anos.

A década de 1990 foi uma tragédia.
Milhões de
postos de trabalho foram queimados na fogueira do neoliberalismo. Na
Região Metropolitana de São Paulo, os 686 mil
desempregados no final de 1990 se tornaram 1,5 milhão em
2000,
segundo o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos
Sócio-Econômicos (Dieese) e a
Fundação
Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
Terceirização, autônomos, prestadores
de
serviços pessoais, atividades precárias, sem
proteção social nem renda previsível,
proliferaram. O emergencial tornou-se permanente e alterou a estrutura
do mercado de trabalho. Hoje, mais de 5 milhões de ocupados
nas
seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Dieese

São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e
Brasília – estão na economia informal.

“Houve perda dos melhores empregos e a expressiva
tendência
de deterioração continua, mesmo quando o emprego
formal
cresce”, constata o economista Anselmo Luiz dos Santos, do
Instituto de Economia da Unicamp. Economistas socialmente
sensíveis atribuem o agravamento do desemprego à
forma
atabalhoada com que os governos neoliberais aplicaram seu
receituário na tentativa de inserir rapidamente o
país no
mundo globalizado. A economia nacional ficou desprotegida.

Estátua de sal

Na época, quem questionasse os mitos criados pela cartilha
dominante virava estátua de sal. Segundo o
“pensamento
único”, o desemprego deveria ser combatido com
políticas para melhorar o nível de
educação
dos trabalhadores e, especialmente, com a
“flexibilização” dos
contratos de trabalho
para baixar o custo da mão-de-obra. A causa do desemprego
não era o arrocho econômico, mas o excesso de
direitos
sociais que os trabalhadores levaram o século 20 para
conquistar
e consolidar na Constituição de 1988.

O economista Cláudio Salm, professor da Universidade Federal
do
Rio de Janeiro, lamenta que durante o período de
estagnação os economistas brasileiros tenham
perdido
muito tempo com fórmulas que só mostraram alguma
eficácia em países europeus em momentos de
crescimento
econômico. “Não haverá
expansão do
emprego no Brasil se não iniciarmos um ciclo de
desenvolvimento
mais acelerado. Com crescimento de 2,5% nós não
vamos a
lugar algum”, alerta.

Essa visão começou a ganhar força
à medida
que foram caindo os mitos construídos pelos condutores da
política econômica no governo anterior. Com a
liberalização do câmbio (1999), o valor
do real em
relação ao dólar passou a flutuar
conforme as leis
do mercado, encontrando relação de
equilíbrio
favorável às exportações.

A partir dessa desvalorização, a curva do
desemprego
começou a reverter. Na segunda metade da década
passada,
de 1996 a 1999, foi fechado ce