Capa|O voto que decide

A forma como você decide seu voto tem a ver com o que
você
espera dos governantes e dos parlamentares.
“Faça”
você mesmo a sua cabeça e leve a sério
essa escolha

Por Cristina Charão, Fábio de Castro e
Flávio Amaral, da Agência
Repórter Social

Faltam poucos dias para a votação que
escolherá
presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Neste período uma enxurrada de
informações sobre
os candidatos e os partidos invade a vida dos eleitores. Em especial,
nos horários de propaganda no rádio e na TV. Se
alguns
artifícios de campanha foram vetados pela nova lei
– como
o uso de cartazes, distribuição de camisetas e os
famosos
showmícios -, nos programas eleitorais a
fórmula
não mudou muito.

Aparentemente, essa repetição cansa o eleitorado.
Menos
da metade dos brasileiros e brasileiras aptos a votar assistiu aos
programas dos candidatos à Presidência da
República
na TV na primeira semana de transmissão, segundo pesquisa do
Datafolha. “Eu não me deixo levar pelos temas de
campanha.
Não vejo horário eleitoral. É tudo

tão batido”, comenta a estudante Jessicca Zuzzi.

O problema é que, num país-continente como o
Brasil, a
propaganda eleitoral pelo rádio e pela TV ainda é
a forma
que a imensa maioria da população tem de conhecer
os
candidatos. Não é o ideal. Para o diretor da
organização não-governamental
Transparência
Brasil, Cláudio Weber Abramo, os meios de
comunicação poderiam fornecer mais
informações sobre os candidatos. “Tanto
os grandes
veículos de alcance nacional quanto os veículos
locais,
com informações sobre os candidatos locais.
São
informações públicas e relevantes para
o
eleitor”, afirma Abramo.

É preciso estar bastante atento para distinguir projetos de
estratégias de marketing. Promessas “bem
embaladas”
já custaram caro em outras eleições.
Obras
não podem ser tratadas como espetáculo. Verificar
o
compromisso com programas já existentes e que dão
certo
também é importante. É comum as obras
“espetaculares” acabarem em prejuízos
para os cofres
públicos. Por outro lado, a descontinuidade de
serviços
essenciais – só porque foi obra da
“gestão
anterior” – igualmente causa danos à
população.

Além desses custos financeiros e sociais, promessas
descumpridas
ao longo dos anos alimentam o ceticismo em
relação
à política. A bancária
Andréa Aniella, por
exemplo, diz que vai procurar “o candidato que mentir
menos”. Para o metalúrgico Nelson Brilhante do Sol
Gayno,
“na realidade, a maioria não está sendo
sincera”.

Outro ponto a enfadar os eleitores é o bombardeio de
acusações, a repetição
constante de
denúncias, sem que haja tempo ou mesmo argumentos
suficientes
para sustentá-las. Para a advogada Cleonice Inês
Ferreira,
a melhor maneira de fugir desse fogo cruzado e saber quem é
o
candidato de fato são os debates. “O
horário
eleitoral é meio massacrante, você tem de ouvir
coisas
péssimas”, comenta a advogada. “Vou
acompanhar o
horário eleitoral no rádio e TV, mas a
decisão
será principalmente pelo debate.”

Parte do eleitorado recorre ao artifício de determinar sua
escolha pelo envolvimento do candidato com determinada área
ou
tema. Fica mais fácil acompanhar
informações e
medir o compromisso dos candidatos quando eles têm um campo
específico de atuação. “Como
sou militante
GLBT (sigla de Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros),
o que pesa no meu voto – há mais de dez anos
-,
especialmente para o Legislativo, é o compromisso do
candidato
parlamentar com relação às demandas
feministas e
os direitos do segmento GLBT”, afirma Regina Facchini,
vice-presidente da Associação da Parada do
Orgulho GLBT
de São Paulo.

As comunidades e associações ligadas
às
religiões de matriz africana até
lançaram a
campanha “Filho de axé vota em filho de
axé”.
“Estamos trabalhando para que o negro, respeitando seu