Carta ao Leitor: Nossa imprensa livre

A pretexto de reservar o mundo a uma raça que
considerava melhor que as demais, Hitler desencadeou uma guerra que
exterminou 50 milhões de pessoas. Com a desculpa de se
defender de um grupo terrorista, o governo de Israel bombardeia bairros
do Lí­bano e assassina centenas de civis, de
crianças a anciãos, que nada têm a ver
com o terrorismo. Sob argumento de
proteger a América do Sul do comunismo, os EUA
patrocinaram golpes de Estado que até hoje ainda fazem
sentir suas feridas e que tiveram entre seus componentes mais selvagens
a censura, na comunicação e nas artes.
Muitos anos, prisões, torturas e desaparecimentos depois,
esse perí­odo passou. Mas a tirania tem muitas faces
e pode ressurgir a qualquer tempo.

A coligação que mais uma vez
une PSDB e PFL, a pretexto de se proteger de um suposto uso eleitoral
da Revista do Brasil, recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral para
obrigar a CUT-SP a tirar a primeira
edição do ar.
Não pediu direito de resposta, nem contestou
nenhuma informação. Apenas quis calar.
Tirar do ar.

Todos os dias, os meios de
comunicação esguicham exemplos de uso
indiscreto da mí­dia para fabricar
opiniões e julgamentos, dando ao mesmo fato diferentes
versões. Pode-se gostar ou não do que
é dito, criticar ou atacar o que está
escrito. Mas atentar contra a liberdade de
expressão é coisa de tempos passados.
Assim como deveriam ser também as guerras
estúpidas que matam inocentes.

Sobre a máfia das
ambulâncias e a CPI dos Sanguessugas, por exemplo,
Veja resumiu que, de 90 parlamentares investigados, 75 foram
beneficiados com pagamentos em dinheiro ou na forma de bens e
presentes. Com base na mesma fonte, Carta Capital revelou que, de 591
prefeituras beneficiadas com emendas do Grupo Planam entre 2000 e 2004,
havia 128 do PSDB, 107 do PFL, 104 do PMDB, 54 do PTB, 49 do PDT e 19
do PT – só para
ficar nos maiores partidos.

Quem achar algo tendencioso nessas
notícias diferentes, mas sobre o mesmo assunto,
pode contestar de várias formas. Assim como
alguém pode não gostar da
matéria que conta como a vida do zelador Reginaldo Jesus da
Silva, que ganha dois salários
mí­nimos, melhorou. Mas pedir para tirar as revistas
de circulação seria um convite a um
passado de tirania que precisa ser lembrado. Para que
não se repita.

Revista do Brasil – Edição 03