Mídia: o espetáculo na notícia


Suzane von Richthofen: criminosa ou personagem de novela?

A cobertura maciça dada pela grande
mídia privada
comercial ao júri do caso Richthofen vem confirmar, mais uma
vez, a transformação da violência em
espetáculo e do jornalismo em entretenimento

Por Venício A. de Lima

A significação de espetáculo remete
para tudo o
que chama a atenção, atrai, prende o olhar. Ao
espetacularizar as coberturas jornalísticas, a
mídia
– a televisão, sobretudo – busca
garantir a
atenção do seu telespectador, mantê-lo
atento,
preso à revelação da
tragédia humana com
sua dramaticidade potencializada pelo mix de sons e imagens
multicolorido. Só que, ao cumprir o papel a que foi reduzida
– oferecer ao anunciante audiência para
exposição da sua mercadoria –, a grande
mídia transforma o seu jornalismo também em
mercadoria
espetacularizada.

Exemplo recente foi a cobertura da Copa do Mundo. A não ser
o
cidadão mais desavisado, poucos deixam de perceber que o
futebol
profissional envolve vultosos interesses financeiros – da
mídia, dos clubes-empresa, dos agenciadores de atletas, dos
fabricantes de equipamentos esportivos, dos países
envolvidos
etc. etc. Foram esses interesses que praticamente transformaram,
durante cinco semanas, o nosso principal telejornal – o
Jornal
Nacional, da Rede Globo – em noticiário esportivo.

A associação de empresas de mídia com
grupos
comerciais globais constitui um dos temas mais relevantes na
discussão contemporânea sobre os rumos do
jornalismo. Essa
questão tem sido identificada como “jornalismo
sitiado”, sobretudo depois que o acelerado processo de
concentração da propriedade no setor transformou
muitos
grupos de mídia – inclusive no Brasil –
em apenas
parte de imensos conglomerados que não necessariamente
têm
compromisso com a atividade jornalística.

Há diversos casos documentados de maior ou menor
interferência direta desses conglomerados no jornalismo de
suas
empresas de mídia. Um deles virou sucesso, em 1999, no filme
O
Informante (The Insider), com Al Pacino e Russell Crowe, que dramatiza
o jogo de interesses entre a indústria de tabaco e a rede
americana de televisão CBS (Westinghouse) para evitar a
divulgação de matéria comprometedora
na revista
noticiosa 60 Minutes.

Situações como essas é que fazem
emergir os
determinantes reais de coberturas espetaculares tanto no esporte como
em crimes e escândalos. Isso se confirmou agora na cobertura
dos
júris dos assassinatos do casal Richthofen e dos jovens
Felipe
Caffé e Liana Friedenbach.

Há pouco mais de dois anos, em um Encontro Internacional
pela
Paz e contra a Guerra, realizado em Porto Alegre, o jornalista
francês Bernard Cassen advertiu que entre aqueles que
acreditam
que “um outro mundo é
possível” ainda
há ilusões em relação
à grande
mídia – esquecem-se que ela é
peça central
do processo de globalização e que, portanto, a
crítica à globalização
deveria se dirigir
igualmente aos meios de comunicação de massa.

A ilusão com os pequenos e ocasionais espaços
oferecidos
faz