Conflito do salário

Entramos na nossa segunda semana de greve, lutando para recuperar nossos salários. As condições são adversas, como você, leitor e leitora, bem sabe. Por isso este formado de “greve pipoca”, que se desloca de uma fábrica para outra, não tem hora nem data para acontecer.

Nesta hora é sempre importante reafirmar alguns princípios. Há quem acredite na existência de conflito entre defender reajustes salariais e lutar pela manutenção de postos de trabalho na região. Segundo esta tese, para desenvolver a economia é preciso achatar salários, acabar com o emprego formal e flexibilizar de vez as relações trabalhistas.

E, mais: além de reduzir os salários do funcionalismo público, é preciso desmontar o Estado. É a mesma política que orienta o governo FHC e dirige o ministro do trabalho Francisco Dornelles, do PPB de Maluf. São as mesmas idéias que inspiraram, com apoio de Collor e dos empresários o surgimento do sindicalismo de resultados representado pela Força Sindical.

A CUT tem muita clareza da necessidade de contrapor-se a estas políticas e defender os salários da corrosão inflacionária. Aprendemos que só há um caminho para enfrentar crises de mercado como a atual. É aumentando a massa salarial, é abaixando as taxas de juros, é estimulando o consumo, tudo o que o presidente Bush fez para enfrentar a recessão instalada na economia norte-americana.

O Brasil desgovernado de FHC, no entanto, faz tudo ao contrário. Aumenta os juros para restringir o consumo, achata salários do funcionalismo por mais de seis anos, e, agora, quer também mudar o artigo 618 da CLT para acabar com o direito às férias, ao 13º salário e ao descanso semanal remunerado. Ou seja, cortar ainda mais os direitos trabalhistas, precarizar as relações de trabalho ao extremo.

Nas mesas de negociações da nossa campanha salarial deste ano o discurso em defesa do achatamento salarial também está presente. Ele argumenta com a convocação de várias férias coletivas nas principais empresas automotivas. O argumento não é só o mercado desaquecido, mas também a modernização tecnológica e conseqüente reestruturação da indústria. Mas, será que estes argumentos são suficientes?

É verdade que somos forçados a entender que a modernização tecnológica provoca redução da oferta de trabalho. Não podemos aceitar, no entanto, é que esta verdade justifique políticas de achatamento salarial e demissão em massa, sem nenhuma ação compensatória. Por que não aproveitar as vantagens tecnológicas para reduzir jornadas de trabalho e garantir aumentos reais de salários aos trabalhadores?

É com esta lógica que nós queremos trabalhar. Por isso é inaceitável para os trabalhadores da CUT propostas de reajuste salarial que nem sequer recuperam perdas inflacionárias. Já mostramos, no interior das fábricas, com nossa “greve pipoca”, e nas ruas, com nossos atos públicos, nossa disposição de exigir estes reajustes.

Resta aos empresários entender o recado. O momento é muito difícil para todos nós. Eles podem torná-lo ainda mais duro.

Luiz Marinho é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, presidente de honra da Unisol-União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo e Coordenador do Mova Regional