Espelho Côncavo (Censurado pelo DGABC)

Este artigo deveria ter sido publicado pelo Diário do Grande ABC do dia 29 de julho.

Percebemos o mundo através dos meios de comunicação. Eles refletem a realidade, nem sempre de forma fiel. Às vezes, um espelho côncavo faz a cabeça maior que o tronco. São muitos os exemplos, verdadeiras obras de arte mas, também, muitas as vítimas destas distorções.

Por isso, quero aproveitar este espaço para dialogar com você, leitor e leitora, sobre uma grosseira manipulação de informações que tem ocorrido nos últimos dias em nossa região. Sua vítima é o prefeito de Rio Grande da Serra, Ramon Velásquez, do PT. Depois de honrada vida política, foi eleito no ano passado com 9.800 votos, ou seja, com 48% do eleitorado de Rio Grande. Está sendo acusado, agora de mandante do assassinato do ex-prefeito José Carlos Arruda, o Carlão, ocorrido há três anos.

O acusador é Ademir Miranda de Almeida, o Brinquinho, ex-funcionário da prefeitura. Demitido por Ramon em seguida a um processo administrativo, Brinquinho ostenta evidentes sinais exteriores de riqueza. Responde por condenações e inquéritos policiais e tem contra si uma folha de péssima qualidade de serviços prestados ao município.

Não é preciso muito conhecimento do assunto para suspeitar que por trás da acusação há apenas vingança. Afinal, porque um prefeito correria o risco de demitir o cúmplice de um crime? Que motivos teria o atual prefeito para mandar matar o antecessor, José Carlos Arruda, o Carlão? E o acusador? Que envolvimento e motivos teria ele para envolver-se com o assassinato?

São perguntas óbvias que poderiam alimentar a curiosidade do leitor interessado na história. Seria muito longo reportar-nos à extensa cobertura dada pelo Diário ao fato. Na quarta-feira, dia 18, o Diário estampou em manchete principal: “Ramon tem sigilo quebrado”. Em linha fina sob a manchete registra “Justiça vai vasculhar contas do prefeito de Rio Grande da Serra, suspeito de matar Carlão”.

No corpo da cobertura Ramon não reclama da decisão da justiça e acredita que ela poderá ajudar a provar sua inocência. Seu sigilo foi quebrado – segundo informa o Diário – a pedido do procurador de justiça. Mas, nenhuma linha questiona ou pelo menos aponta a ausência de informações sobre a quebra do sigilo dos acusados do assassinato, inclusive de Brinquinho.

Mais uma dúvida pode surgir na cabeça do leitor: será que a promotoria é tão parcial a ponto de pedir quebra de sigilo só do atual prefeito? Ou a parcialidade é do jornal? Para completar a cobertura do dia, em manchetes secundárias, o Diário dá um quarto de página a “Brinquinho” para repetir as denúncias e reserva a Ramon igual espaço para sua defesa.

Mas, se o leitor quiser elementos consistentes para entender o caso terá de pesquisar em edições anteriores do próprio Diário. Ficará sabendo, por exemplo, que Brinquinho é proprietário de três empreiteiras. E que, à época do crime, o então prefeito assassinado havia suspenso os serviços prestados pelas empresas de Brinquinho à prefeitura. A denúncia é do ex-vereador Valdir Mitterstein, o Gaúcho, sogro de Ramon, também acusado por Brinquinho de mandante do crime.

Há muitas dúvidas e muitos indícios em torno do caso. Nada, no entanto, que permita qualquer incriminação do atual Prefeito. Ou que justifique fazer manchetes insinuantes contra ele. A não ser que prevaleça o interesse de propagar a máxima de que todo político, inclusive os do PT, são bandidos.

Nossa experiência democrática tem nos mostrado que os políticos não podem ser colocados no mesmo saco. Há bons e maus políticos, assim como há homens honestos e desonestos. Por trás de toda esta desinformação usada contra Ramon o leitor saberá identificar um jogo de interesses e de disputas políticas regionais. E saberá solidarizar-se com Ramon. Eu acredito no Ramon e tenho certeza que ele será inocentado.

*Luiz Marinho é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT (www.smabc.org.br) e Coordenador do Mova Regional.

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