Desenvolvimento e solidariedade
Nos últimos dias, nosso Sindicato viveu dois importantes momentos. Na quinta-feira, na sede de São Bernardo, recebemos a visita do presidente do BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento, Enrique Iglesias. Responsável por um dos principais organismos de fomento econômico internacional, veio ao ABC com o objetivo de conhecer nossa organização sindical e nossos projetos de economia solidária voltados para o desenvolvimento regional.
Um segundo fato ocorreu na sexta-feira pela manhã, com cobertura da TV Globo. Duas carretas, com 40 toneladas de alimentos arrecadados em metalúrgicas e junto à população da região saíram da porta do nosso Sindicato em direção ao nordeste. Elas carregavam parte do resultado da campanha de solidariedade às vítimas da seca organizada pelos metalúrgicos do ABC em parceria com a Caritas. Na semana anterior, outra carreta com 26 toneladas, arrecadadas na Scania, foi enviada à Garanhuns, interior de Pernambuco. Nos próximos dias, segue o restante arrecadado na região. Do total das 570 toneladas já arrecadadas em todo o Estado dentro desta campanha, 116 toneladas sairão do ABC.
Apenas esta parte já corresponde à cerca de 3.900 cestas básicas. É pouco diante do tamanho da tragédia da fome. Mas, certamente, estas doações vão contribuir para amenizar a fome de milhares de brasileiros. São doações de trabalhadores, populares, irmãos nordestinos ou não e até mesmo de algumas empresas da região e, por isto, vão carregadas de profundo simbolismo. São gestos individuais de solidariedade. Um valor de cidadania que vem do mais profundo da alma do nosso povo e que nos permite continuar acreditando que é possível construir um outro Brasil, com justiça e dignidade para todos.
Você, leitor e leitora, conhece a história do nosso Sindicato. Conhece nosso papel destacado na conquista de direitos dos trabalhadores contra a ditadura e na busca de alternativas de reconstrução da economia e da qualidade de vida na nossa região. Você tem nos acompanhado na nossa luta cotidiana para criar alternativas econômicas que permitam manter empregos e garantir o funcionamento de indústrias no ABC. O exemplo das cooperativas de produção incentivadas por nós e construídas a partir de empresas falidas, talvez seja o melhor exemplo.
Há muito mais: acordo setorial da indústria automotiva, planos emergenciais para garantir o funcionamento de setores inteiros da indústria, ao lado da luta para garantir a renda dos trabalhadores da região são outros exemplos importantes. Também olhamos para o futuro pensando nas necessidades estratégicas da região e neste sentido demos contribuição decisiva para o surgimento de organismos regionais de fomento, como a Câmara e a Agência Regional de Desenvolvimento, entre outras iniciativas como o Mova, que está hoje entre as experiências de alfabetização de adultos mais importantes da história deste País.
Também não descuidamos de enfrentar a estrutura arcaica do sindicalismo brasileiro. Construímos a CUT, acabamos com o imposto sindical e optamos por desenvolver alternativas de sobrevivência econômica como o Fundo de Greve. Organizamos comissões de fábrica e comitês sindicais dentro das empresas. O resultado foi a conquista de um padrão de organização sindical democrático hoje exemplo para todo o País. Sempre com o apoio da sociedade, mas, também, quase sempre tendo de enfrentar os que continuam na contra-mão da história, as viúvas da ditadura. Estas, naturalmente, temem o avanço das liberdades democráticas. Além de remover os cadáveres dos armários, algum dia, certamente, o Brasil ainda vai abrir as caixas-pretas da ditadura militar.
Sabemos, no entanto, que tudo isto ainda é muito pouco diante dos desafios e das carências econômicas e sociais da região em particular dos trabalhadores. Mas é o bastante para explicar a confiança dos trabalhadores e da população em depositar em nossas mãos as 116 toneladas de alimentos. Suficiente para justificar a vis