Pura Retórica

O sr. Luiz Tortorello, prefeito de São Caetano, em artigo publicado por este jornal (em 11/02), dividiu a sociedade em dois grandes pólos: de um lado, aqueles que pregam o desenvolvimento econômico, por meio dos critérios da “eficiência e competência” e da “prática como critério da verdade” e, por outro, aqueles que defendem a ” retórica” e a ” política pela política”.

É pura retórica, maniqueísta, subjetiva e preconceituosa e, por isso, é preciso que alguém o conteste. Não com a intenção de cristalizar divergências, mas, pelo contrário, com o objetivo de procurar pontos de convergência que sejam capazes de pavimentar o caminho da unidade regional.

Pertencendo ao primeiro grupo, o dos bons, o prefeito citou lideranças internacionais que estiveram discutindo os rumos do planeta em Davos, na Suíça, empresários locais que iniciaram um movimento de crítica ao trabalho de instituições como o Consórcio, a Agência e a Câmara Regional do ABC. E, naturalmente, a administração municipal de São Caetano. No segundo grupo, o dos maus, os teóricos da academia e das esquerdas em geral, que estiveram discutindo alternativas à globalização e que “assumiram o controle” dos fóruns pluripartites na região do ABC.

A quantidade de temas e abordagens que o prefeito jogou no mesmo caldeirão não poderia resultar senão numa salada de conceitos e palavras sem qualquer coerência. Juntar as discussões de Davos, Porto Alegre e do Consórcio em um único texto já seria demasiado arriscado para qualquer articulista que pretende acusar os adversários de retóricos e ineficientes.

Por isso, diferentemente do prefeito, vamos separar as coisas. Com relação às discussões de Davos e de Porto Alegre, o debate será sempre motivado por forte carga ideológica. E, Tortorello, ele mesmo, não conseguiu escapar desta retórica. Afinal, dizer que as nobres lideranças de Davos propõem o desenvolvimento por meio de critérios da competência e da eficiência é o mesmo que dizer que o livre mercado é o único caminho do desenvolvimento.

É pura ideologia neoliberal. Na sua cegueira histórica de enxergar a hegemonia internacional norte-americana como sinal do fim da história o discurso do prefeito de São Caetano desconsidera inclusive a existência de um número cada vez maior de pessoas de esquerda, centro e de direita somando suas vozes num coro crítico ao processo de globalização das economias. Ou o prefeito também se identifica com as teses de globalização da fome, da miséria, da exclusão social, do desemprego…

Em relação às instituições organizadas na região do ABC a incursão do prefeito é ainda mais desastrada. Quem está falando em eficiência da Câmara, Agência e Consórcio é quem até hoje deu menos importância a estas entidades. Basta apurar nas atas de reunião destas entidades quantas vezes o prefeito e sua equipe marcaram presença!

Quem fez política com estas entidades foi o prefeito que esteve sempre presente aos coquetéis com o governador, mas sempre ausente das reuniões de trabalho destinadas a discutir os tais temas concretos que ele tanto elogia entre as virtudes da turma dos bons.

Mas, não é preciso sequer procurar a documentação para comprovar a tese. Basta lembrar uma só discussão, estratégica para a região, como é a proposta de unificação das alíquotas fiscais do ABC, barreira fundamental para impedir a guerra fiscal na região. Para que o prefeito possa assumir uma postura crítica em relação ao que foi e ao que deixou de ser feito na região é preciso, antes de tudo, que explique fatos como este.

Em relação aos empresários, são bem vindos sempre. Só é estranho que, apesar de possuírem representantes legítimos, eles acabem abrindo mão do espaço que deveriam ter ocupado há muito tempo. O que é preciso pensar no porque, de fato, os empresários estiveram até hoje distantes destas instituições. Será que não é exatamente por estarem a