Ainda a segurança
Acredito que você deva estar cansado de discutir o tema da segurança pública.
Mas a gravidade do assunto, cada dia mais próximo de cada um de nós, exige nossa
dedicação. Entre nós metalúrgicos, que trabalhamos ou vivemos nas periferias do
Grande ABC, segurança já é um problema tão grave quanto desemprego ou condições
de trabalho.
Só um pouco da história dos últimos meses, apenas em São
Bernardo: em novembro do ano passado os jardins Farina, Petroni, Industrial e
vilas Mariana e São Pedro, entre outros, tiveram de sujeitar-se ao toque de
recolher. Em meados de agosto foram comerciantes do bairro Alves Dias que, para
homenagear um bandido morto na cadeia, tiveram de baixar as portas. E, semana
passada, o comércio do Sítio Bom Jesus, também obrigado a fechar as portas em
homenagem ao crime organizado.
Episódios como estes, ocorridos em São
Bernardo, equiparam a região a uma espécie de Colômbia, mais qualificada pela
condição de carro-chefe da indústria nacional. Atingem toda a população, todas
as categorias profissionais e cada um de nós em particular. E há muito tempo
deixou de ser apenas notícia de jornal, desgraça abstrata que aconteceu com
alguém que a gente não conhece. Você, assim como eu, cada um de nós já vivemos o
trauma da violência de perto. Nas últimas semanas, apenas do nosso Sindicato,
três diretores foram vítimas de assaltos e mini-seqüestros.
E como
enfrentar o problema? Na segunda-feira, visitei o Comandante da PM em Diadema,
Coronel Barreto, de quem ouvi relatos pormenorizados sobre os esforços da
Corporação no combate ao crime. É preciso reconhecer estes esforços, reconhecer
os resultados positivos no número de homicídios ocorridos na região, até para
poder exigir correção para muitas distorções. Aliás, é bom registrar a
disposição do Coronel em não deixar repetir-se perdas de tempo de policiais para
vigiar assembléias sindicais legítimas.
Mas o leitor e a leitora sabem
que o enfrentamento do crime organizado não pode ser feito apenas com reforço de
policiamento e com demagogia eleitoreira de alguns. Maurício Soares e Gilson
Menezes, prefeitos de São Bernardo e Diadema, respectivamente, que me perdoem.
Mas, não é criando em vésperas de eleições guardas municipais que o problema
estará resolvido. E, também, não vale transferir a responsabilidade para os
governos federal e estadual.
A aproximação das eleições municipais traz
para você, eleitor e eleitora, uma oportunidade de opinar e decidir sobre
alternativas para garantir mais segurança pública. Por isso é importante
discutir um pouco do tema, propostas e perfil dos candidatos que se propõe a
resolvê-lo, em nome do povo. Uma atenção redobrada sobre os curriculuns e sobre
o discurso de cada um pode ajudar você a tomar sua decisão.
Um cargo
público implica em riscos, que não são maiores que os riscos que cada cidadão
corre para viver em São Bernardo e na região. E, pela história da vida de cada
um, você poderá ter um mínimo de segurança sobre a disposição de cada candidato
a enfrentar estes riscos. Depois vem o programa de governo.
A
experiência da região e do País mostra que não há soluções milagrosas, não basta
mais policiamento e mais cadeias. É preciso atacar as causas da criminalidade,
prevenir atos criminosos e a violência e incorporar a comunidade num plano geral
e integrado de segurança. Para conseguir isto não basta ter coragem e programa
de governo. É preciso também capacidade de mobilizar a comunidade e engajá-la
neste programa. E, ainda mais. Será preciso que a comunidade, serviços públicos,
sindicatos e entidades sociais se mobilizem e se disponham a integrar conselhos,
discutir e fiscalizar ações e investimentos na segurança pública.
Luiz
Marinho é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, presidente de honra
da Unisol-União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo e
Coordenador do Mova Regional