Choram de barriga cheia!
A campanha pela redução da jornada de trabalho que a CUT, ao lado de outras centrais, retomou recentemente, provocou a velha gritaria patronal contra a elevação de custos embutida no processo. É uma grita injustificada. Entre 1992 e 2000, reflexo de reestruturação e enxugamento de folha salarial, a indústria no Brasil obteve um crescimento de produtividade da ordem de 95%. No Estado de São Paulo, este crescimento foi ainda maior, 133%. Os números foram obtidos pela Subseção do Dieese/Sindicato Metalúrgicos do ABC, com base em informações da própria CNI, a principal confederação empresarial do País.
É bom reforçar que estamos trabalhando apenas com o universo dos empregos formais, com carteira assinada, e que estamos abstraindo mais da metade da força de trabalho nacional hoje jogada na informalidade. Confrontados com o volume de massa salarial paga no período, que manteve-se no mesmo patamar, os números da CNI suscitam uma questão central: quem beneficiou-se afinal com os ganhos de produtividade do trabalho do cidadão brasileiro? E quem pagou a conta?
E, como sempre, é mais fácil começar pela conta. A avalanche de desemprego, naturalmente, é o dado mais concreto. Vejam os números: enquanto as vendas da indústria em valores reais cresceram no período em 45%, e a produtividade em 95%, o pessoal empregado diminuiu 25%.
Não é preciso, no entanto, muita formulação teórica para entender este processo. Apenas acompanhar o desempenho de um fabricante de elevadores da nossa base metalúrgica no ABC, por exemplo, seria suficiente para entender o problema: enquanto há dez anos ele produzia 25 elevadores por semana com 1.450 trabalhadores, hoje produz 90 elevadores, com 463 trabalhadores apenas.
Os dados da CNI, no entanto, apontam ainda outros indícios de distorções macro-econômicas. Caiu a quantidade de trabalhadores empregados e, ao mesmo tempo, manteve-se a massa salarial. O resultado é um rendimento por empregado 35% superior. O que isto significa? Em que medida as inovações tecnológicas contribuíram para isto? E o aumento de ritmo de trabalho? E o volume de horas-extras que os trabalhadores estão fazendo? O certo é que agravou-se ainda mais a concentração da renda no Brasil.
Para perceber este fenômeno também não é preciso muita elaboração estatística. Basta olhar para o chão das fábricas para perceber que os trabalhadores mais antigos que ainda mantém seus empregos conseguiram um nível de consumo e renda muito superior ao dos recém chegados.
Outra relação, que estabelece em nível nacional a diferença entre o crescimento da produtividade do trabalho e o crescimento do rendimento por empregado, mostra que uma margem de 44% de ganho não foi repassada aos rendimentos daquele contingente de trabalhadores que manteve-se empregado. E onde foi parar este ganho? Se não foi dirigida para a geração de novos postos de trabalho, nem para salário, não sobram muitas as alternativas: engordaram a carteira dos empresários? E/ou engordaram os cofres públicos, via tributação, para serem transferidas para credores e banqueiros nacionais e estrangeiros?
Qualquer que seja a resposta, ela não retira dos trabalhadores seu direito a reivindicar a redução da jornada como forma inclusive de gerar mais empregos na economia. Nas montadoras de automóveis do ABC (exceção da GM) a jornada já foi reduzida das 44 para as 40 horas semanais. Sem dúvida, o processo de redução ajudou a manter empregos nos últimos anos e está ajudando agora a criar novos postos, como já vem ocorrendo na Volks e na Mercedes, que nas últimas semanas contrataram cerca de mil novos trabalhadores na região.
É bom lembrar que, em todo este processo, não há um só dedo do governo federal que agora vem fazer demagogia com a proposta da redução da jornada para 35 horas. A única coerência do presidente FHC neste processo é a omissão. Da mesma forma que hoje ele diz que a redução deve ser negociada entre trabalhadores e empresários, há doi