Black&Decker e o ABC
A revista Exame publicou no último dia 17 uma matéria entitulada “O Jogo Virou”, onde fala sobre como a Blacker & Decker, fabricante de eletrodomésticos portáteis e ferramentas, teria, supostamente, se tornado mais competitiva após sua saída do ABC e instalação em Uberaba, Minas Gerais.
Ao ler um texto como esse algumas perguntas devem ser feitas: será que somente a Blacker & Decker amargou prejuízos na década de 90, ou este é mais um entre inúmeros outros casos vividos por muitas empresas do setor produtivo brasileiro, instaladas ou não no ABC, diante dos juros elevados e da liberalização desenfreada às importações?
Há ainda uma clara contradição ao nível macroeconômico: por que a Grande São Paulo – e nela o ABC (3º maior mercado consumidor do país, segundo pesquisa da Target Associados) – é o “principal mercado” da empresa no País? Não haveria nenhuma relação com a massa salarial mais elevada paga nesta região?
O texto apresenta ainda as opiniões satisfeitas de dois funcionários que se mudaram de São Paulo para Uberaba junto com a companhia, como se elas representassem a opinião de todas as outras pessoas que compõem as cerca de 50 famílias que foram para lá. Cabe perguntar se esta pequena amostragem reflete a opinião de todo o universo. E mais: por que não entrevistar também os demitidos da empresa que aqui ficaram sobre o grau de sua satisfação?
A região do ABC tem consciência de que, além de discutir as políticas nacionais, deve e pode também resolver uma série de seus próprios problemas. Todavia, não devemos cair na tentação de aceitar e vangloriar-se do discurso da moda, ou aquele que parece mais fácil, para explicar fenômenos mais complexos, como a desconcentração industrial, a retração dos complexos indus-triais tradicionais e as novas formas de valorização fácil do capital por meio da guerra fiscal.
Subseção Dieese