Riqueza x Pobreza
Especula-se muito em torno das razões da existência de mais de 56 milhões de pobres e miseráveis entre nós. Todos os dias você pode encontrar no noticiário políticos, economistas, especialistas de todo tipo apontando esta ou aquela razão para explicar a pobreza. Faltam empregos, falta crescimento econômico, falta educação, falta investimento social, falta isto e falta aquilo. A culpa é da globalização, do FMI, do neoliberalismo ou, então, é da falta de reformas estruturais. E você pode encontrar também muitas propostas de solução para o problema. Depois que a preocupação chegou ao FMI, Banco Mundial e Bird até mesmo velhas figuras da oligarquia brasileira, como o senador Antonio Carlos Magalhães passaram a apresentar propostas de erradicação da pobreza.
Esta semana o Instituto da Cidadania, a Faculdade Trevisan e a Revista Isto É promoveram em São Paulo, com muita cobertura de imprensa, um seminário voltado para o Combate à Pobreza. Infelizmente, no entanto, pouco do conteúdo do debate chegou ao leitor. A mídia preferiu especular com as razões que levaram Lula e ACM ao mesmo auditório e perdeu a oportunidade de contribuir para ajudar a discutir razões e saídas para o problema da pobreza em nosso País. Preferiu mostrar as semelhanças dos discursos a mostrar as diferenças substanciais entre as propostas de cada um deles. Parece até que a culpa da pobreza é do PT.
Por isso, quero aproveitar este espaço para recuperar com você, leitor, um pouco do que interessa nesta polêmica. Entre os elos desta corrente de razões que podem explicar a pobreza no Brasil, é preciso apontar o primeiro e principal deles: a concentração da riqueza. Esta é também a opinião de Lula, Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal e do senador Eduardo Suplicy.
A partir da concentração da riqueza é gerado este processo de crescente empobrecimento do cidadão brasileiro. A razão central da pobreza, portanto, está exatamente no seu oposto. Enquanto 1% da população mais rica no Brasil fica com 53% da riqueza, nos Estados Unidos o quinhão correspondente limita-se a 26% do total de riqueza mensurável na sociedade. Estes dados foram expostos pelo professor Reinaldo Gonçalves, um dos palestrantes do seminário.
Não se trata de ficar discutindo aqui – você sabe que seria uma tremenda de uma perda de tempo – quem nasceu primeiro: a concentração da riqueza ou a pobreza e a falta de educação, de saúde, de acesso ao mercado de trabalho, a baixa renda e a falta de mercados e conseqüente desenvolvimento econômico, a submissão ao FMI e daí por diante. A concentração da riqueza complementa a pobreza, sob todos os ângulos, sociais, políticos e econômicos. E a pobreza é tanto mais absoluta quanto mais absoluta é a concentração da renda. Neste campo o Brasil bate quase todos os recordes internacionais, perdendo apenas para Honduras e Serra Leoa.
E não adianta pensar que há como resolver este problema sem traumas, ou seja, fazendo apenas crescer a riqueza dos mais de 50 milhões de pobres. Lula ouviu certa vez de um físico de Munique que, para elevar o padrão de riqueza dos 2/3 da população mundial atualmente marginalizados para o mesmo patamar do cidadão italiano seria preciso que o planeta Terra fosse três vezes maior do que é.
É, portanto, o elo da concentração da riqueza que precisa ser rompido. Lula tem a mais absoluta razão ao colocar esta questão em primeiro lugar e chamar para enfrentá-la o mais amplo arco de alianças, sem excluir ninguém, até mesmo ACM. Todo mundo sabe que miséria não gera revolução mas apenas submissão. Ou seja, até mesmo para continuar alimentando nossos velhos sonhos de construir no Brasil uma sociedade mais igualitária com justiça e dignidade para todos é preciso, antes de tudo, tirar da exclusão estes milhões de seres reduzidos hoje à condição de bestas humanas vivendo do lixo, quando isto ainda é possível.
E a pobreza não será revertida se não atacarmos de frent