Sipat na Volks debate Vida, Saúde e Trabalho

Tema será discutido pelos trabalhadores em reuniões até sexta-feira

Começa nesta segunda-feira, 23, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (Sipat) na Volks e a CIPA dos Trabalhadores organizou o debate Vida, Saúde e Trabalho. O tema será discutido em reuniões até sexta-feira durante encontro pela manhã e à tarde.

Segundo Silvio César Nascimento, vice-presidente da CIPA, a ideia é colocar a companheirada para discutir qual dos três é o mais importante e se um ou outro deve ser prioridade.

Os debates acontecem duas vezes ao dia, na sala de Segurança e Trabalho, na ala 13, da segunda a sexta-feira. A programação estará afixada nos quadros de aviso. “É importante os companheiros exigirem das chefias a liberação e participar dos eventos para entender a repercussão do trabalho na vida”, afirmou Silvio.

O texto abaixo, do médico Théo de Oliveira, coordenador do Departamento de Saúde e Meio Ambiente do Sindicato, ajuda a compreender o tema do debate.

Homem dividido
O olhar cansado oscila entre as peças que tem de montar e o relógio que gira cada vez mais lento.

Em perspectiva, olha a linha que serpenteia pelo galpão numa interminável procissão de veículos. Contrariamente ao relógio que caminha a passo de tartaruga, a linha avança numa velocidade implacável. E parece acelerar na medida em que o dia passa e o cansaço transforma o corpo numa massa quase sem coordenação.

Não fosse o repetir do mesmo movimento a cada instante, teria de parar, pois a cabeça já não consegue mais pensar. Uma nuvem de monotonia embota qualquer novo pensamento.

Olha a linha de novo e vê nela uma serpente enorme pronta a devorá-lo.
Precisa ir ao banheiro, sente a bexiga estufada pelas horas sem urinar, mas pensa que vai perder alguns produtos. O espaço de cada montador ficou menor com o novo sistema de tempos. Entre as duas linhas do chiqueirinho, mal dá para dar conta da tarefa, imagina parar para urinar?

Pensou em chamar o coringa, mas lembrou que não existe mais o trabalhador que ficava na linha para substituir temporariamente quem precisava parar. Pensou de novo no banheiro, no andar de cima, dois lances de escada. Tomou coragem e começou a correr. Os degraus de dois em dois foram sendo escalados e num piscar de olhos começou a sentir o prazer de esvaziar a bexiga e a alma.

Fechou os olhos e pensou no trabalho, nas mudanças dos últimos anos, nos companheiros que se foram. Pensou na reestruturação da produção, nas células, no trabalho em grupo, na diminuição das pausas, na aceleração do ritmo, na falta de pessoal para tirar uma produção sempre maior, nas horas extras, nas terceirizações. Quantas coisas que passaram a ser feitas por outras pessoas, em outras empresas e quando deu por si já estava de novo na linha, se apertando com os companheiros da frente para recuperar os produtos perdidos.

O corpo aliviado voltou ao trabalho automático enquanto o pensamento leve voou. A imagem da mulher amada trouxe a saudade do tempo em que viviam juntos. O amor precisava da liberdade e de um tempo que ele não tinha. Convivência exige disponibilidade. A reestruturação ocupava seus pensamentos, seus medos e suas apreensões. Foi levado a fazer uma opção entre a vida pessoal e o trabalho.

Tentando ser mais produtivo, quando percebeu tinha terceirizado a família.