A falta da Política

Parece estranho abordar os enormes problemas que se apresentam para a saúde física e psíquica dos trabalhadores, sejam eles de áreas operacionais, técnicas, administrativas ou, ainda, prestadores de serviços, a partir da ausência, cada vez mais significativa da atividade política desses trabalhadores.

Essa ausência ainda é pouco entendida e, muitas vezes, é tratada como uma tendência social, uma característica dos mais jovens ou, até, como um desencantamento das pessoas em relação ao que é político, levando a uma consequente tendência à valorização da técnica, do objetivo, do absolutamente racional.

A Política, desde as primeiras experiências na Grécia antiga, era uma atividade exercida apenas pelos homens livres. A liberdade era uma condição estritamente relacionada ao não necessitar trabalhar para a manutenção da vida biológica, trabalho esse feito pelas mulheres, escravos e crianças. Ter liberdade na antiguidade era sinônimo de política. Mais que sinônimo, era condição indispensável para o pensar, o discursar e o agir, ou seja, para o exercício da Política.

A modernidade que surge a partir do desenvolvimento industrial com a expansão do capitalismo e com as novas democracias emergentes, que tem como marco a independência dos Estados Unidos e das demais colônias americanas e a Revolução Francesa, traz uma nova experiência que é a democracia representativa, diferente da democracia direta praticada por gregos e romanos. O crescimento do capitalismo, do comércio e da indústria trouxe para a burguesia uma maior independência da Política e para os trabalhadores uma maior exigência de tempo dedicado ao trabalho e um menor tempo para o ócio e para a participação na vida social.

O tempo cada vez maior dedicado à atividade de trabalho acaba com a atuação política. O ócio dá lugar à diversão, cinema, televisão, música, não como cultura, mas como simples diversão que deve ser consumida pelos trabalhadores. A indústria cultural substitui a rea-lização da cidadania pela diversão, o que aliena os trabalhadores da sua própria vida.

Individualista, apolítico e até mesmo anti-político, o trabalhador do nosso tempo isola-se e, individualmente, tenta resolver as questões fundamentais da sua vida, entre as quais destacam-se a saúde e a manutenção da capacidade de trabalho. Mas a saúde e a vida humana são determinadas socialmente e dessa forma dependem da Política.

É trágico perceber como os trabalhadores procuram os médicos e psicólogos para resolver individualmente problemas que são sociais e determinados pela Política.

Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente