A lição das ruas
As manifestações dos usuários contra a alteração dos trajetos dos fretados em São Paulo trouxeram entre outras coisas um novo fato que precisa ser entendido.
“São manifestações desorganizadas, não existe nenhuma organização, não há uma liderança com quem se possa negociar” eram as palavras de um comandante da PM, responsável por desobstruir as vias ocupadas, aos repórteres das redes de TV que faziam a cobertura dos protestos.
De certa forma as manifestações que duraram alguns dias e obrigaram a prefeitura
de São Paulo a fazer várias concessões contrariaram uma crença de que hoje
é muito difícil mobilizar as pessoas, uní-las na luta por uma causa, enfim essas bobagens que a mídia tenta difundir com o intuito de desmobilizar a sociedade.
Pelo contrário, o que se viu foi uma grande capacidade das pessoas, mesmo sem uma organização ou uma liderança, mobilizarem-se para defender seus interesses
imediatos, urgentes e que não davam tempo a uma organização ou ao surgimento de uma liderança. Interesses que nascem individualmente e, por serem comuns, se tornam
coletivos. Eles fundamentalmente atingem a classe trabalhadora que depende do transporte coletivo para poder trabalhar.
Isso nos leva a pensar o quanto é possível avançar na luta por melhores condições de trabalho, saúde e meio ambiente. Seria muito mais fácil canalizar e amplificar esses descontentamentos como forma de aumentar nosso poder de negociação nas empresas onde temos algum tipo de organização sindical e dispomos de lideranças capacitadas e preparadas. Isso dependeria de maior sensibilidade na percepção daquilo que descontenta os trabalhadores, o que é facilitado pela convivência diária e pela proximidade e conhecimento dos problemas. Nesse aspecto os patrões saem na frente ao valorizar as demandas individuais evitando que se transformem em ações coletivas.
É preciso refletir sobre essas questões.
Apenas a organização dos trabalhadores nos locais de trabalho tem a possibilidade
efetiva de melhorar as questões relacionadas à saúde e à segurança no trabalho, exercendo controle social sobre o cumprimento e o respeito às leis e avançando em novas conquistas para uma vida melhor e mais saudável.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente