A tecnologia rouba emprego dos trabalhadores?

Em 1998, a Folha de São Paulo publicou caderno especial sobre o futuro do trabalho, focando 10 questões. Passados esses anos, o quadro de desemprego se agravou, mantendo os sindicatos na difícil situação de ter que priorizar a defesa do emprego num cenário em que governo e empresários se aliam no propósito de precarizar o trabalho.

Para contribuir com esse debate, apresentaremos nesta coluna uma série de textos destacando as discussões feitas no curso Sindicato e Sociedade. Buscamos uma explicação para o problema do desemprego, destacando as interpretações que empresários, trabalhadores, governo apresentam ao analisarem o tema, abordando questões específicas, como tecnologia, ou questões de fundo como as políticas de emprego e o modelo de desenvolvimento.

Pode-se responsabilizar a tecnologia pelo desemprego? Uma abordagem precipitada poderia nos levar a uma visão equivocada, colocando a tecnologia como a grande vilã e causadora da perda de postos de trabalho.

Há um consenso de que a tecnologia cria e destrói empregos ao mesmo tempo. Depende do local, do ambiente e do contexto em que é introduzida. Alguns exemplos ajudam a esclarecer este ponto. Robôs introduzidos numa montadora desempregam trabalhadores na linha de soldagem, mas criam empregos na montagem final porque mais carrocerias são produzidas. Entre 1992 e 1996, a construção civil foi o setor que menos investiu em tecnologia e que mais demitiu, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria. Por outro lado, no setor bancário, a revolução causada com a automação foi responsável pela demissão de 349 mil funcionários em apenas sete anos.

Quando o crescimento é lento, a tecnologia tende a desempregar, ocorrendo situação inversa nas economias que apresentam processo contínuo e taxa elevada de crescimento. Nas últimas duas décadas, Estados Unidos e Japão, países que investiram em tecnologia, criaram mais emprego (35 milhões e 15 milhões) do que a Europa ( 7 milhões), onde o investimento em tecnologia foi menos intenso.