Se todos trabalhassem menos haveria mais emprego?
Essa foi uma das dez questões analisadas num caderno especial da Folha de S. Paulo dedicado ao problema do desemprego. Utilizamos a matéria para aprofundar o debate do tema na última unidade do curso Sindicato e Sociedade, cujos resultados apresentamos neste segundo artigo da série iniciada na semana passada.
O tema não deixa de ser envolvente. Afinal, não seria uma ótima solução conjugar jornada menor de trabalho, melhor qualidade de vida e mais emprego para todos? Quem não gostaria de viver numa sociedade onde os trabalhadores tivessem tempo livre e condições de usufruir esse tempo para o lazer, à educação e à cultura? Quem não gostaria de poder se dedicar à família no final de semana, passar parte dos dias da semana praticando ou assistindo esporte, de poder frequentar o cinema, o teatro, shows de música?
Essa não seria a sociedade dos sonhos? Diminuir a jornada de trabalho, poderia ser um passo na direção desse futuro tão desejado? Apesar das questões serem instigantes, a realidade é muito mais complexa. A primeira constatação é que não se pode estabelecer uma relação mecânica entre a diminuição da jornada e o aumento do emprego. Apesar de ser uma bandeira do movimento sindical brasileiro e europeu, a redução da jornada de trabalho como medida isolada não é capaz de gerar mais empregos. Na Alemanha as maiores empresas reduziram a jornada semanal para 35 horas. Dependo das circuns-tâncias, a redução da jornada passa a ser sinônimo de jornada parcial, com redução de direitos e benefícios, um passo perigoso para a precarização do trabalho. É assim que a questão é entendida pela maioria dos empresários cujo principal objetivo é aumentar continuamente o lucro. Para se contrapor a esta a ameaça, é necessário um sindicalismo forte e combativo, capaz de conjugar a luta pela redução da jornada com lutas mais gerais voltadas para mudar o modelo de desenvolvimento, gerando políticas que consigam dinamizar a economia, gerar emprego e distribuir renda.