Brasil: desenvolvimento e emprego
Dando continuidade à reflexão que estamos fazendo nesta coluna sobre o desemprego, faremos uma rápida abordagem da evolução recente desse problema que inquieta a vida de milhões de famílias, deixa intranquilos os trabalhadores empregados e cobre de incerteza o futuro de uma parcela significativa da população brasileira.
Olhando retrospectivamente nossa história, constatamos que durante cinco décadas, de 1930 a 1980, o Brasil apresentou um expressivo crescimento econômico: deixou de ser um país fundamentalmente rural, construiu um dos principais parques industriais da América Latina e despontou no cenário mundial como uma nação cujo desenvolvimento era marcado por contrastes e desigualdades sociais.
Do ponto de vista do emprego, houve mudanças significativas. Nos anos quarenta, apenas 11% dos trabalhadores tinham carteira assinada. Esse índice subiu para 66% nos anos oitenta. Para os trabalhadores em geral e particularmente para os migrantes de regiões mais pobres do país, os números expressam a relativa facilidade de ingresso no mercado de trabalho e a possibilidade de ascensão social de uma geração para outra.
Esse processo de crescimento chegou ao seu limite nos anos oitenta. Apesar de ser considerada a década perdida, do ponto de vista econômico, período em que o desemprego se acentuou nas fases de recessão e no qual os trabalhadores travaram contínuos embates para repor as perdas do salário para a inflação, do ponto de vista político os anos oitenta foram marcados por lutas decisivas pela democratização do país.
Essas lutas levaram ao fim do regime militar, à campanha das eleições diretas e, em 1988, à nova Constituição. Conseguiram barrar, naquele momento, a introdução de políticas neoliberais ditadas pelo “Consenso de Washington” e adotadas por países latino-americanos como o Chile e, mais tarde, a Argentina. Esse cenário foi alterado profundamente na década seguinte, com conseqüências perversas para o trabalho, a renda e o emprego.